Aumento no número de queimadas está relacionado a alta de desmatamento, aponta estudo

Quantidade de incêndios na Amazônia já é 60% superior à média dos últimos três anos; Mato Grosso lidera ranking de queimadas

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Por Giovana Girardi
Atualização:

O elevado número de focos de queimadas na Amazônia neste ano, que já é 60% superior à média dos últimos três anos, está sendo impulsionado pelo avanço do desmatamento. É o que aponta uma análise técnica feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) sobre a temporada atual de fogo na região.

Do começo do ano até esta terça-feira, 20, foram registrados 39.033 focos no bioma Amazônico, contra 22.165 no ano passado até o final de agosto, segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número também já supera os dados dos oito primeiros meses de 2016, que tinha sido particularmente seco no início do ano e havia registrado 36.333 focos até 31 de agosto. 

Queimadas na Amazônia, 60% acima da média dos últimos 3 anos, estão ligadas a desmatamento Foto: ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL - 28/11/2013

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O número de focos de incêndios, para maioria dos Estados da região, já é o maior dos últimos quatro anos. O Mato Grosso lidera, com 13.682 focos até segunda-feira, alta de 87% em relação ao ano passado. E já supera também o ano de 2016, que tinha sido o recorde para o Estado, com 12.896 focos. No Brasil como um todo, este já é o ano com maior número de focos de calor desde 2013.

Uma das justificativas para a alta é que este ano a Amazônia novamente está enfrentando uma estiagem mais prolongada, como ocorreu em 2016, mas de acordo com os pesquisadores do Ipam, só a seca não explica a alta nas queimadas.

Avaliando o cenário local de seca até o último dia 14, o grupo liderado por Divino Silvério observou que a estiagem atual está mais branda do que nos últimos anos. Os pesquisadores, então, compararam os focos de incêndio registrados pelo Inpe com indicadores de alertas de desmatamento feitos pelo sistema de monitoramento por satélites SAD, do Imazon, e observaram uma correlação forte, indicando que “o desmatamento possa ser um fator de impulsionamento”, escrevem em nota técnica divulgada nesta terça-feira, 20. 

“Os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndios foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento”, comparam os autores. Segundo eles, esses municípios são os responsáveis por 37% dos focos de calor em 2019 e por 43% do desmatamento registrado até o mês de julho na região. 

“Esta concentração de incêndios florestais em áreas recém-desmatadas e com estiagem branda representa um forte indicativo do caráter intencional do incêndios: limpeza de áreas recém-desmatadas”, apontam.

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Nuvem gigante de fumaça encobre o céu de Novo Progresso, no Pará, em registro feito há uma semana Foto: Programa Queimadas/Inpe

“Não há fogo natural na Amazônia. O que há são pessoas que praticam queimadas, que podem piorar e virar incêndios na temporada de seca”, disse a diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar, uma das autoras da nota em informe divulgado à imprensa.

Os pesquisadores chamaram a atenção para o Acre, que até esta segunda registrou do início do ano até esta segunda 2.498 focos –196% de alta em relação ao mesmo período do ano passado e 38% a mais do que em 2016, quando houve uma seca extrema ocasionada por um forte El Niño, como lembram os autores. 

O Estado, cujo governador, Gladson Cameli (PP), vem dizendo para proprietários de terra que não paguem multas que eles venham a receber em caso de serem autuados pelo órgão ambiental local, como noticiou o jornal Folha de S. Paulo no final de julho, declarou estado de alerta ambiental e está com situação crítica nos municípios de Assis Brasil, Manoel Urbano, Rio Branco e Sena Madureira. “Em todos, os índices de concentração de material particulado estão bem acima do recomendação da Organização Mundial de Saúde”, alertam os pesquisadores.

“Paradoxalmente, assim como no restante da região amazônica, o número de dias sem chuva indica que a região não sofre uma estiagem severa neste ano, e está longe da seca intensa registrada em 2016.”

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