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Vulcão chileno pode passar meses expelindo cinzas

Por ANTONIO DE LA JARA
Atualização:

Especialistas acreditam que o vulcão Chaitén, no sul do Chile, pode continuar expelindo enormes nuvens de cinzas durante os próximos meses, para desespero dos moradores da região, que querem voltar para suas casas assim que possível. As cinzas, que chegam até a Argentina, continuam pelo sexto dia, sem dar sinal de trégua. O fenômeno prejudica os vôos com destino ao sul da Patagônia. Em alguns lugares, tudo está coberto por até 15 centímetros de cinzas, e os mananciais estão contaminados. "Tudo é incerto demais. Isso pode durar meses, semanas, anos. Talvez nunca mais voltemos", disse às lágrimas o mecânico Patrício Ide, 40 anos, que foi levado da remota localidade de Chaitén para Puerto Montt, a 200 quilômetros do vulcão. Diante da magnitude da tragédia, o governo não descarta transferir definitivamente os 4.500 moradores da cidade que leva o nome do vulcão, distante dez quilômetros dali. Chaitén só é acessível por mar e ar, e por isso a Marinha deslocou seus navios para retirar a população. Na quarta-feira, veterinários foram à cidade para resgatar animais de estimação sedentos, famintos e assustados, que foram levados a Puerto Montt. Depois de muito tempo adormecido, o vulcão de mil metros de altura entrou em erupção repentinamente na sexta-feira. Na terça ele cuspiu pedras quentes e lavas, e a coluna de cinza aumentou. Autoridades disseram que depois disso suas duas crateras se uniram, o que aliviou a pressão interna. A desabrigada Maria Angelia Hermosilla, de 42 anos, quer voltar para sua terra na primeira oportunidade. "Não existe nada como Chaitén. Todo mundo se conhece, somos como uma grande família, não há violência, não há assaltos." A aldeia é banhada por um fiorde e fica 1.220 quilômetros ao sul de Santiago. A região atrai turistas interessados nas paisagens, na pesca e nas trilhas. Rodrigo Rojas, funcionário do Departamento Nacional de Emergências, disse que os ventos continuam empurrando as cinzas para a vizinha Argentina, mas elas já não chegam tão longe quanto no início da erupção. A presidente Michelle Bachelet disse que esta foi a primeira vez que o Chile teve de desocupar uma cidade inteira. Na quarta-feira, os últimos moradores de Futaleufu, mais a leste, também foram retirados. Luis Lara, geólogo do governo, disse não esperar uma explosão catastrófica do vulcão, e que eventuais rios de lava não chegarão à cidade. Mas uma nuvem de material denso e muito quente pode encobrir a área ao redor. "A atividade pode continuar durante bastante tempo. Podem ser semanas, meses. Podem ser até anos, mas não com as mesmas características, com altos e baixos", afirmou. Há no Chile cerca de 2.000 vulcões, dos quais 500 potencialmente ativos, segundo os geólogos. A Argentina cancelou os vôos para a Patagônia por causa da nuvem de cinza. Na cidade de Esquel, uma das mais afetadas no lado argentino, a tempestade de cinzas parou na quarta-feira e as aulas foram retomadas. Mas as autoridades alertaram os moradores a continuarem usando máscaras e a não beberem água dos córregos que vêm das montanhas. (Reportagem adicional de Monica Vargas e Manuel Farias, em Santiago, e Lucas Bergman e Cesar Illiano, em Buenos Aires)

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