Violência e impunidade favorecem a destruição da Amazônia, diz HRW

Human Rights Watch critica 'retrocessos' de Bolsonaro na proteção do meio ambiente e alerta para os riscos aos ativistas

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Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - O governo brasileiro fracassa na proteção aos defensores do meio ambiente, o que favorece o avanço de redes criminosas que destroem a Amazônia, afirma a organização não governamental (ONG) internacional Human Rights Watch (HRW), em um relatório divulgado nesta terça-feira, 17.

Amazônia em chamas. Incêndio atinge área florestal de Santo Antônio do Matupi, no município de Manicoré, no Amazonas Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Na publicação, intitulada Máfias do ipê, a organização diz que a impunidade e a redução do controle ambiental contribuem para o desmatamento da maior floresta tropical do mundo.

De acordo com dados oficiais, o desmate ma Amazônia brasileira praticamente dobrou entre janeiro e agosto, ao passar de 3.336,7 km² nos oito primeiros meses de 2018 para 6.404,4 km² no mesmo período deste ano, o equivalente a 640 mil campos de futebol.

A destruição da Amazônia "é amplamente impulsionada por redes criminosas que fazem uso da violência e da intimidação contra quem se coloca no seu caminho", denuncia a HRW, que pede ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), que pare "seus ataques e acusações verbais sem fundamento" às ONGs.

A organização considera ser necessário restabelecer a cooperação entre o governo e a sociedade civil para proteger os indígenas, os ativistas do meio ambiente e a selva.

"As redes criminosas têm a capacidade logística de coordenar a extração, o processamento e a venda de madeira em larga escala, enquanto usam homens armados para intimidar e, em alguns casos, executar aqueles que buscam defender a floresta", afirma a HRW.

Human Rights Watch no 'Jornal Eldorado'

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No Jornal Eldorado desta terça, os apresentadores Haisem Abaki e Carolina Ercolin conversaram sobre o assunto com o pesquisador César Muñoz, um dos autores do trabalho. Ouça:

Assassinatos de ativistas do meio ambiente

Segundo um informe publicado em julho pela ONG Global Witness, o País é o quarto do mundo com mais homicídios de defensores do meio ambiente, com 20 assassinatos em 2018.

As ameaças na região amazônica não são novidade no Brasil, que ganhou as manchetes internacionais em dezembro de 1988, com a morte de Chico Mendes, uma das vozes mais conhecidas do mundo na luta pela preservação do meio ambiente.

A HRW vê "retrocessos" na gestão ambiental de Bolsonaro, um ex-capitão de extrema direita que defende a redução de terras indígenas e a exploração comercial da floresta tropical.

O informe critica que o presidente tenha nomeado como chanceler Ernesto Araujo, um ministro que chama as mudanças climáticas de "tática globalista".

A HRW lembra ainda que Bolsonaro ameaçou retirar o País do Acordo de Paris e reduziu o orçamento do Ministério do Meio Ambiente. A ONG alerta que a pasta teve a estrutura enfraquecida e foi deixada nas mãos de Ricardo Salles, um ministro acusado de crime ambiental.

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Madeireiros e proprietários de terras são apontados pela HWR como os principais responsáveis pelo desmatamento ilegal da Amazônia para a criação de gado e a venda de madeira nobre, como o ipê, facilmente identificado por suas flores coloridas que se destacam no tapete verde da Amazônia.

A HRW lista 28 homicídios nos últimos anos em que os autores dos crimes estavam envolvidos com a extração ilegal madeira, "segundo provas confiáveis". 

"Os responsáveis pelos crimes raramente respondem na Justiça", declara a ONG.

Em muitos casos, acrescenta, as denúncias de ameaças não são sequer investigadas pela polícia. 

"Enquanto o Brasil não adotar medidas urgentes contra os criminosos que facilitam a extração ilegal de madeira, a destruição da maior floresta tropical do mundo continuará desenfreada", disse o diretor de Direitos Humanos e Meio Ambiente da HRW. /AFP

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