USP Leste deve ser primeira estação sustentável do mundo

O arquiteto paulistano David Douek, de 37 anos, é responsável pela adaptação dela e de outros prédios públicos ao conceito LEED

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Por Victor Hugo Brandalise
Atualização:

Mesmo com nuvens no céu, o dia está bastante claro. São 13 horas, há luz suficiente para fazer apertar os olhos. Por que, então, todas as 18 luminárias da Estação USP Leste da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estão assim, totalmente acesas? Nada poderia irritar mais o arquiteto paulistano David Douek, de 37 anos. Desde a década de 1990, ele luta para evitar desperdício. E agora passou a ajudar, também, os prédios públicos a fazerem omesmo.

 

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Douek é o arquiteto responsável portransformar a USP Leste, apontada como modelo pela CPTM, na primeira estação de trens sustentável do mundo.Desde fevereiro é ele o projetista que vem adaptando a unidade, em Ermelino Matarazzo, na zona leste, para conseguir o inédito certificado de sustentabilidade– registro nunca antes alcançado por edifícios do tipo.

 

Caminhando pelo hall da estação, Douek olha para cima. Parece indignado. “Simplesmente, não há necessidade”, disse, apontando as lâmpadas acesas, ofuscadas pela claridade do dia.“E é fácil resolver. Bastaria prever iluminação que se ajusta automaticamente à luz. Mas agora vamos resolver isso.”

 

Para o inédito certificado – o selo Leed (Liderança em Energia e Design Ambiental, registro internacional do gênero) –, falta pouco: a estação já soma 31 pontos,quando a pontuação necessária para o selo é 40. Deficiência que será resolvida com instalação das luminárias inteligentes,de redutores de velocidade nas escadas rolantes, reforma na cobertura (terá elementos transparentes e pintura em branco) e adaptaçõesnos banheiros (válvulas que economizam10% da água gasta hoje).

 

“Nas cabines, haverá luzes direcionais para conforto visual dos atendentes.”O projeto deve ser concluído até o fim de 2011, quando o certificado será emitido. Também conta pontos para a estação o fato de que 75% dos funcionários da unidade vão ao trabalho de trem ou ônibus. Exemplo que a equipe de Douek também dá: em todas as reuniões na USP Leste, era prerrogativa obrigatória que todos fossem de trem até a estação.

 

“Vai haver comunicação visual explicando benefícios das adaptações, mostrando que é possível fazer em casa. É uma iniciativa multiplicadora”, disse Douek. “Na atual fase, também deveríamos dar exemplo.”

 

Trens sustentáveis

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Com investimento baixo – as mudanças sairão a R$ 500 mil –, a CPTM decidiu que os próximos projetos terão também a alternativa“sustentável”. Afutura Estação Suzano será a primeira a ser construída desde o início como conceito.

 

“Será uma estação modelo, com baixo consumo de energia e água”, disse o diretor de planejamento da companhia, Alberto Epifani. “Mas sem planos mirabolantes. Vamos cortar o consumo, simplificar.”

 

Outros prédios públicos começam a seguir a tendência – outros, também, a cargo de Douek. É o caso dofuturo prédio do Centro de Estudos Climáticos e Ambientes Sustentáveis (Cecas), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Será o primeiro Zero Energy Building – produzirá toda a energia consumida e não emitirá gás carbônico – daAméricadoSul.

 

“Aos poucos, iniciativas assim vão surgindo no País. Natural é São Paulo ficar na vanguarda.”

 

São Paulo sustentável

 

Umdos hobbies do arquiteto é caminhar.Morador de Higienópolis, na região central,costuma passear no próprio bairro, no centro velho, nos Jardins. É fã de prédios construídos nas décadas de 1960 e de 1970, principalmente os projetados por Rino Levi– gosto definido, como era de se esperar, pelo conceito de “sustentabilidade”, considerado mesmo antes de a palavra ser inventada.

 

“São prédios que permitem ótima ventilação natural o ano todo, com quebra-sóis que substituem o uso do ar-condicionado.”

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Ao caminhar pelo centro, o arquiteto sonha com o dia em que poderá transformar prédios antigos, construídos entre fins do século 19 e início do 20, em imóveis sustentáveis. A Secretaria da Justiça, o Tribunal de Justiça, prédios de Ramos de Azevedo, são observados por Douek em forma de “pontuação”. “Não parecem ser difíceis de adaptar para certificação.

 

Eles têm pouco vidro, fator que contribui para aumento da temperatura interna, para consumo de energia.”

 

À distante zona leste,Douek ia pouco. “Redescobri essa área pelo trabalho.” Na semana passada, ao passar na frente das bilheterias da Estação USP Leste,o arquiteto de repente parou. Apontou o local onde serão colocados sinais que apresentarão conceitos sustentáveis.“

 

Será a entrada para um ambiente novo,que ensinará a milhares de passageiros ideais importantes.” Entre as preocupações do arquiteto, além de lâmpadas e água de reúso, estão as 3 mil pessoas que passam por ali diariamente e terão lições de respeito à natureza sempre que cruzarem as catracas da estação.

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