Urgência climática ainda patina

Após legado limitado da COP-26, eventos climáticos extremos escancaram necessidade de mudanças

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:
Divulgação 

Nos últimos quatro meses, desde que a 26ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas terminou, a urgência climática não parou de mostrar sua face. O episódio trágico de Petrópolis, na serra fluminense, em que chuvas intensas e deslizamentos mataram 230 pessoas, é apenas um dos sinais. O relatório mais recente do IPCC, o painel do clima da ONU, lançado em fevereiro, colocou ainda mais luz sobre o tema. O tempo para que o planeta consiga frear as consequências mais graves do aquecimento global é cada vez mais curto. Menos de uma década.

PUBLICIDADE

Diante deste pano de fundo, o legado da COP-26, realizada em Glasgow, na Escócia, é no mínimo limitado, avalia Eduardo Viola, especialista em política ambiental do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). “No fundamental, a trajetória de fracasso do Acordo de Paris em sua meta de reduzir emissões não foi alterada pela COP de Glasgow porque grandes emissores – China, Índia, Rússia – continuaram crescendo fortemente suas emissões desde 2015 e não assumiram compromissos significativos”, analisa o pesquisador. “Os Estados Unidos assumiram metas ambiciosas, mas a oposição republicana ao governo Biden está dificultando a implementação”, afirma o professor da UnB.

A necessidade de celeridade na implementação de medidas locais, nacionais e internacionais a favor das futuras gerações contrasta com o discurso final da COP, avalia Alexandre Prado, diretor de Economia Verde do WWF-Brasil, organização não governamental que completou cinco décadas de atividades em 2021. “Esperava-se que os países trariam compromissos de redução de emissões mais ambiciosos, que haveria um acordo amplo para a eliminação da geração de energia de carvão e dos subsídios ao setor de combustíveis fósseis, e que o financiamento climático prometido pelos países desenvolvidos ultrapassaria em muito os US$ 100 bilhões ao ano”, argumenta Prado.

Independentemente do resultado prático da COP-26, o trabalho de formiguinha dos principais envolvidos com o tema climático precisa continuar. “Precisamos avançar nas políticas públicas, no mercado de carbono, nas estratégias ESG das empresas, nos fundos ambientais. Não há uma bala de prata que, sozinha, vá resolver o problema”, afirma Caroline Rocha, gerente de clima do instituto de pesquisas WRI Brasil. Para ela, o objetivo central da COP-26 era viabilizar um grande acordo para limitar o aumento médio da temperatura global neste século a 1,5ºC, o que não ocorreu. “Ao menos essa meta se manteve viva e não foi abandonada de vez”, diz a representante do terceiro setor.

Mas existem visões mais otimistas em relação aos resultados práticos da conferência em Glasgow. “Claro que há decisões que ficaram para a próxima COP. Temos uma ansiedade grande, mas ao mesmo tempo estamos no ritmo que era o esperado. Não é de um dia para o outro que mudamos os países e as empresas”, afirma Carlo Linkevieius Pereira, diretor no Brasil do Pacto Global da ONU – maior ação de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros em 160 países, dos quais 1,5 mil no Brasil.

Para o executivo, a COP teve um saldo positivo, por conta principalmente da ampla participação das empresas, do setor financeiro e da sociedade civil. Este engajamento, segundo Pereira, é resultado da percepção de urgência despertada pelo tema, algo que vem se ampliando para os mais diversos setores.

Por mais que a invasão russa na Ucrânia seja uma tragédia do ponto de vista humanitário e econômico, o episódio deflagrado pelo presidente russo, Vladimir Putin, pode ter um desdobramento favorável à melhora do campo climático, na avaliação do diretor do Pacto Global.

Publicidade

“A discussão sempre foi esta: o barril de petróleo a menos de US$ 50 inviabiliza o aumento da potência instalada de energia renovável. Agora, com o preço do barril chegando a US$ 130, é hora de acelerar a transição para as renováveis”, diz Pereira.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.