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Um dissidente iraniano na floresta

Ali Sharif, precurssor da permacultura no Brasil, fundou unidades de prática da técnica por toda a América Latina

Por Karina Ninni
Atualização:

O iraniano Ali Sharif, de 57 anos, foi preso durante a Revolução Islâmica. Escapou do cárcere numa fuga em massa que deu origem a um best-seller. Vagou por diversos países até se fixar em Manaus, onde fundou, em 1997, o Instituto de Permacultura do Amazonas (IPA). É considerado o precursor da técnica no País.

 

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“Em 1984 fiz nos Estados Unidos um curso de permacultura com Bill Mollison, que mudou minha vida. Quando terminou, ele disse: ‘Bem, o que você quer fazer com isso agora?’ E eu disse: ‘Faço o que você mandar’.”

 

O professor pegou um mapa e foi listando os locais onde já existiam polos de divulgação da técnica. A América Latina ainda não tinha nenhum. “Então eu decidi sair dos EUA. Mas essa é a parte fácil. Difícil foi chegar lá.”

 

Sharif pede licença para uma digressão. Conta que se formou em História na Inglaterra e voltou para o Irã em 1974. Viu-se em apuros com a revolução que derrubou o governo em 1979. “Fiquei dez meses na cadeia. Escapei na maior fuga da história, descrita no livro On the Wings of an Eagle (Nas Asas de uma Águia)”, conta. “Fugi para a Europa. Depois entrei nos EUA pelo México, passando por Tijuana.”

 

O iraniano errante viveu de 1994 a 1998 no Equador, onde fundou a primeira unidade de permacultura da América do Sul. Depois seguiu para o Peru e a Guatemala. “Minha primeira visita ao Brasil foi em 1996. No ano seguinte voltei, chamado pelo pessoal do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Eles me perguntaram que objetivos eu tinha. Disse que queria colocar um centro em cada ecossistema brasileiro”, diz, referindo-se à Amazônia, ao Cerrado, ao Pantanal, à caatinga, à mata atlântica e aos pampas. Sharif já instalou unidades em Manaus, Pirenópolis (GO), Bagé (RS) e Salvador (BA). “Hoje há muitas instituições trabalhando com permacultura, porque ela transforma problemas em soluções.”

 

O iraniano valoriza as raízes indígenas da técnica.“Quando Cortez invadiu a Cidade do México, toda a comida que abastecia 1 milhão de astecas era produzida na cidade mesmo, com adubo humano.” Para Sharif, a monocultura extensiva só resiste porque é subsidiada. “O Amazonas importa 65% da comida que consome porque é mais barato do que produzir. Não faz sentido."

 

*Karina Ninni viajou a convite da Fundação Amazonas Sustentável (FAS).

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