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Todos pelos golfinhos

O Projeto Golfinho Rotador, que luta pela preservação dos hábitos desses mamíferos aquáticos em Fernando de Noronha, completa 21 anos nesta semana

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Por Redação
Atualização:

Os golfinhos-rotadores são um sucesso. Não há quem que visite o arquipélago de Fernando de Noronha que não faça questão de vê-los nadando e brincando nas águas do Atlântico. Inteligentes e cheios de graça, esses mamíferos aquáticos da família Delphinidae são parte importante da biodiversidade local. Pensando no bem-estar e na preservação dos animais e do ecossistema, há 21 anos foi criado o Projeto Golfinho Rotador, um empreendimento sustentável que luta para evitar problemas que o turismo desenfreado na região vem causando nessas duas últimas décadas. O Projeto Golfinho Rotador é coordenado pelo Centro Mamíferos Aquáticos, executado pelo Centro Golfinho Rotador e tem a Petrobras como patrocinador oficial.

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O fundador do projeto é o oceanógrafo Dr. José Martins da Silva, que chegou ao arquipélago em 1989 e implantou o Golfinho Rotador no ano seguinte. Desde então, ele e sua equipe - que hoje conta com 15 pessoas - , têm passado por inúmeras dificuldades, mas também atingido metas importantes. "Penso que o grande triunfo do projeto é ter chegado até aqui. Há uma dificuldade imensa de conseguir implementar algo que envolva cuidado com a biodiversidade marinha em um local tão visado pelo turismo como Fernando de Noronha", diz o oceanógrafo. "O grande problema é que há muita resistência por parte das autoridades e dos empresários da região, que não enxergam a questão como prioridade", explica.

Os golfinhos-rotadores, que ganharam esse nome porque conseguem saltar fora d`água e realizar até sete rotações em torno do próprio eixo, são presença constante no entorno de Fernando de Noronha. Entretanto, a falta de conhecimento sobre os cuidados com a espécie e com o habitat em que esta vive podem ocasionar o afastamento desses mamíferos aquáticos, pois eles buscam águas calmas de enseadas em ilhas oceânicas, como a Baía dos Golfinhos em Noronha, para descansar, se comunicar e se reproduzir.

Segundo José Martins, existem cerca de 10 mil golfinhos-rotadores na região da baía, que são acompanhados pelos pesquisadores. Nesses 21 anos, foram gastas 35.589 horas de observação e realizados 1.278 mergulhos com eles, sempre com o objetivo de garantir o desenvolvimento natural. Apesar da existência do projeto, o tempo médio passado pelos animais no local, que era de 7 horas, tem diminuído após o aumento no número de turistas. Hoje está em apenas 1 hora.

"É importante saber que há dispersão porque os golfinhos são ameaçados pelo turismo. Infelizmente, as autoridades ainda não perceberam isso. As pessoas podem vê-los, mas a aproximação não é benéfica para o processo de vida natural deles e isso é o mais importante. Precisamos de normas que estabeleçam o fechamento da área existente entre as ilhas em que passam barcos de turismo e a baía dos golfinhos", diz o oceanógrafo. Desde 1999, os visitantes não podem mais nadar nos locais em que há concentração de rotadores, porém os barcos ainda continuam muito próximos da baía em que eles se agrupam.

Dados mostram que, em 1990, cerca de 5 mil turistas visitaram o famoso arquipélago. Atualmente, esse número beira as 70 mil pessoas, anualmente. Ou seja, um aumento gritante que não passa despercebido pela fauna e a flora da região. Para tentar diminuir o impacto dessa mudança, o Projeto Golfinho Rotador mantém um programa de conscientização e orientação ambiental em três pontos de Fernando de Noronha: Porto Santo Antônio, Baía do Sueste e Mirante dos Golfinhos. Esse trabalho é feito com auxílio de monitores que apresentam o projeto para os visitantes e explicam sobre a vida dos rotadores.

Mas não é só isso. O projeto também se dedica a realizar ações de educação sustentável com a comunidade. Crianças e jovens são orientados na escola e durante o período de férias por meio de oficinas teóricas e práticas sobre a importância do meio ambiente. Também são oferecidos ao povo noronhense cursos profissionalizantes em ecoturismo. "No início do projeto, percebemos que havia o ente golfinho e o ente humano e que essa relação entre eles deveria ser trabalhada", diz José Martins. "Assim começamos a criar ações diretas com as pessoas que convivem com os animais e usam esse contato para sobreviver, pois elas dependem da vinda de turistas a Noronha", conclui.

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Além do patrocínio da Petrobrás, que vigora desde 2001, o Projeto Golfinho Rotador também é apoiado pelo Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direito Difuso, ligado ao Ministério da Justiça. Segundo o fundador, esse relacionamento tem sido muito importante para manter o projeto funcionando. "O incentivo financeiro tem nos ajudado a garantir resultados positivos tanto nas pesquisas científicas quanto nas ações com a população e com os visitantes", diz. O oceanógrafo explica que o objetivo atual do projeto é continuar mantendo as práticas e pesquisas já existentes, de modo a garantir a proposta principal: preservar os animais-símbolo do arquipélago e, com isso, contribuir para a continuidade do ecossistema.Mais informações sobre o projeto no site: www.golfinhorotador.org.br

 

CURIOSIDADES SOBRE O GOLFINHO-ROTADOR

CONHEÇA O ESPECIALISTAJosé Martins da Silva é Doutor em Oceanografia, fundador e coordenador do Projeto Golfinho Rotador, em Fernando de Noronha. Ele vive no arquipélago desde 1989 e se dedica ao estudo dessa espécie. Atualmente, o Analista Ambiental do Centro Mamíferos Aquáticos do ICMBio, é considerado um dos grandes especialistas brasileiros no assunto. É nascido em Taquari, no Rio Grande do Sul, e autor do livro Os Golfinhos de Noronha.

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