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Terra corre risco de entrar em efeito estufa irreversível, alertam cientistas

Especialistas também estão preocupados com outros fenômenos, como incêndios florestais, que se propagarão à medida que o planeta se tornar mais quente e seco

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Por Redação
Atualização:

TAMPA, EUA - O planeta precisa urgentemente de uma transição para uma economia verde, pois a contaminação por combustíveis fósseis ameaça empurrar a Terra para um duradouro e perigoso estado de efeito estufa, alertaram pesquisadores na segunda-feira, 6.

Os pesquisadores sugerem que o ponto de inflexão poderia acontecer quando o aquecimento da Terra se situar 2°C acima dos níveis pré-industriais Foto: Ajay Verma / Reuters

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Se o gelo polar continuar derretendo, as florestas encolhendo e os gases de efeito estufa aumentando - como acontece a cada ano -, a Terra chegará a um "ponto de inflexão", isto é, de dano irreversível.

Cruzar este limiar "garante um clima de 4ºC a 5ºC superior à era pré-industrial, e níveis do mar entre 10 e 60 metros mais altos do que os de hoje", advertiram cientistas nas Atas da Academia Nacional de Ciências. E isso "poderia acontecer em apenas algumas décadas", alertaram eles.

‘Terra estufa’

"É provável que uma ‘Terra estufa’ seja incontrolável e perigosa para muitos", afirma o artigo escrito por cientistas da Universidade de Copenhague, da Universidade Nacional da Austrália e do Instituto de Pesquisas de Efeitos Climáticos de Potsdam, na Alemanha.

Ao final do século ou até mesmo antes, os rios transbordariam, as tempestades causariam estragos nas comunidades costeiras e os recifes de coral desapareceriam.

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A média das temperaturas globais poderia exceder a de qualquer período interglacial - isto é, nas épocas mais quentes entre as Eras do Gelo - do último 1,2 milhão de anos.

O degelo polar levaria a níveis do mar dramaticamente mais altos, inundando as terras costeiras onde vivem centenas de milhões de pessoas. "Lugares na Terra se tornarão inabitáveis se a 'Terra estufa' virar realidade", disse o coautor do estudo Johan Rockstrom, diretor-executivo do Stockholm Resilience Center.

Ponto de inflexão

Os pesquisadores sugerem que o ponto de inflexão poderia acontecer quando o aquecimento da Terra se situar 2°C acima dos níveis pré-industriais. O planeta já aqueceu 1°C em relação à era pré-industrial e continua esquentando à velocidade de 0,17°C por década.

"Um aquecimento de 2°C poderia ativar elementos de inflexão importantes, elevando ainda mais a temperatura para ativar outros elementos de inflexão em um efeito dominó, que poderia fazer a temperatura do sistema da Terra aumentar", destaca o relatório.

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Essa cascata "poderia inclinar todo o sistema da Terra para um novo modo de operação", disse o coautor Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Pesquisas de Efeitos Climáticos de Potsdam.

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Os especialistas também estão preocupados com outros fenômenos, como incêndios florestais, que se propagarão à medida que o planeta se tornar mais quente e seco e têm o potencial de acelerar o acúmulo de dióxido de carbono e o aquecimento global.

Cálculo

O artigo, intitulado "Perspectiva", se baseia em estudos publicados previamente sobre pontos de inflexão da Terra. Os cientistas também examinaram condições que o planeta experimentou no passado remoto, como no Plioceno, há 5 milhões de anos, quando o gás carbônico (CO²) estava em 400 partes por milhão (ppm), como hoje.

No Cretáceo, era dos dinossauros há 100 milhões de anos, os níveis de CO² eram ainda mais elevados, atingindo as 1.000 ppm, em grande parte em razão da atividade vulcânica.

Cientistas afirmam que é preciso criar mais estratégias para absorver as emissões de carbono, como acabar com o desmatamento e plantar árvores para absorver o dióxido de carbono Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Afirmar que 2°C é um ponto sem retorno "é novo", disse Martin Siegert, codiretor do Instituto Gratham no Imperial College de Londres, que não participou do estudo.

Os autores do relatório "coletaram ideias e teorias previamente publicadas para apresentar uma narração sobre como aconteceria o cruzamento do limiar", disse. "É bastante seletivo, mas não absurdo.”

Como evitar

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Segundo os cientistas, as pessoas devem mudar imediatamente seus estilos de vida. Os combustíveis fósseis precisam ser substituídos por fontes de energia com emissões baixas ou nulas, e devem ser criadas mais estratégias para absorver as emissões de carbono, como acabar com o desmatamento e plantar árvores para absorver o dióxido de carbono. Na lista de ações está a gestão do solo, melhoria das práticas agrícolas, conservação de terras e costas, e implementação de tecnologias de captura de carbono.

No entanto, se os humanos deixassem agora de emitir gases de efeito estufa, a tendência atual de aquecimento poderia desencadear outros processos do sistema Terra, chamados de retroalimentações, que levariam a um aquecimento ainda maior. Isto inclui o degelo do permafrost (tipo de solo encontrado na região do Ártico), o desmatamento, a perda da camada de neve do hemisfério norte, do gelo marinho e do gelo polar.

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Os cientistas dizem que não é certo que a Terra possa permanecer estável. "O que ainda não sabemos é se o sistema climático pode 'estacionar' de forma segura cerca de 2°C acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris", disse Schellnhuber. / AFP

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