Temperaturas no Brasil devem subir de 2°C a 8°C até o fim do século

Impactos dessas alterações climáticas devem afetar agronegócio e a disponibilidade de água, segundo estudo divulgado nesta terça-feira

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Por Victor Martins
Atualização:

BRASÍLIA - As temperaturas no Brasil devem subir, na média, entre 2 e 8 graus até o fim do século, com elevações mais intensas, primeiramente, no Centro-Oeste do País, e posteriormente no Norte, Nordeste e Sudeste. A conclusão é parte de estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), documentos que foram divulgados nesta terça-feira, 25. Os impactos dessas alterações climáticas devem afetar as cidades, o agronegócio e a disponibilidade de água, com efeitos econômicos que devem ser ponderados nas próximas semanas. 

As simulações realizadas mostram ainda que a variação das temperaturas deve aumentar, assim como as das chuvas, o que significa que em determinados anos pode haver chuva em abundância e, em outros, seca intensa. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que acompanha o desenvolvimento desses estudos, estima que culturas podem "sofrer drasticamente" com as mudanças. O entendimento dos especialistas é de que mesmo que a emissão de carbono fosse interrompida, ainda assim o quadro de aquecimento teria continuidade. "Esse cenário é inevitável, mesmo se parar as emissões o cenário vai ocorrer", explicou Natalie Unterstell, diretora da SAE.

Simulações mostram ainda que a variação das temperaturas deve aumentar, assim como as das chuvas, o que significa que em determinados anos pode haver chuva em abundância e, em outros, seca intensa Foto: Hélvio Romero/Estadão

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Eduardo Monteiro, pesquisador da Embrapa, conduz simulações e usa os dados da SAE como subsídio para sua pesquisa. Segundo ele, todas as culturas serão afetadas. Em algumas regiões deve ocorrer a diminuição de áreas agricultáveis. "O risco climático para a agricultura vai aumentar", ponderou. As exceções seriam a cana e a mandioca, culturas que experimentam o aumento de área de baixo risco climático porque sobrevivem em ambientes mais quentes. 

"Estamos verificando essas mudanças hoje, não depende só dos modelos e de projeções. Já estamos verificando mais partes do dia com temperaturas acima de 32 graus", observou Monteiro. "Quando isso coincide com a safra de algumas culturas, há o abortamento floral. Nesse caso a produtividade cai muito ou é zero", argumentou.

Chou Sin Chan, pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e responsável por parte do estudo e criação de modelos até o fim do século, disse que as consequências do aumento da temperatura, no pior cenário, estão sendo estudadas. Ela ponderou que a seca em São Paulo, por exemplo, ainda é considerada um cenário isolado, mas que contém padrões semelhantes ao observado nos modelos da pesquisa. Ela argumentou, no entanto, que com os dados e as projeções, será possível aos gestores públicos tomarem decisões mais assertivas e diminuir, evitar ou mesmo se adaptar a crises decorrentes do clima.

Para Sergio Margulis, subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da SAE, é preciso pensar em estratégias de adaptação. "O desperdício de águas é grande. Cerca 50% da água se perde em usos múltiplos", calculou. Margulis explicou ainda que o governo está preparando o plano nacional de adaptação. "Todos os ministérios vão ser consultados", disse. "O governo está pensando em um plano para elencar possíveis eventos e impactos e o quando e o quanto fazer", afirmou.

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