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Sob protestos, BID lança fundo para carbono de floresta

Fundo de US$ 300 milhões será para financiar projetos de preservação.

Por Eric Brücher Camara
Atualização:

Sob protestos de ambientalistas em Bali, na Indonésia, o Banco Mundial (BID) anunciou nesta terça-feira planos de lançar um fundo de US$ 300 milhões para financiar projetos de preservação de florestas de países em desenvolvimento. O projeto - que já tem promessas de investimentos de US$ 160 milhões de países como a Grã-Bretanha, a Holanda, a França, a Austrália, o Japão, a Dinamarca e a Finlândia - foi descrito pelo presidente do banco, Robert Zoellick, como um "piloto prático para expandir as ferramentas de negociação na mudança climática". No entanto, organizações ambientalistas presentes à reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) para mudança climática acusaram o banco de hipocrisia. Segundo um estudo da co-diretora da organização não-ambiental (ONG) Instituto para Estudos de Política (IPS, na sigla em inglês), Daphne Wysham, o fundo investe em projetos de carvão e petróleo que prejudicam as populações mais pobres. "É pura hipocrisia o Banco Mundial afirmar que está trabalhando para interromper o aquecimento global, enquanto continua a financiar combustíveis fósseis, que prejudicam os mais pobres e são a maior causa do aquecimento global", disse Wysham. O Banco Mundial, no entanto, afirma que vai beneficiar potencialmente 1,2 bilhão de pessoas que dependem de florestas para sobreviver, além de contribuir para a diminuição das emissões de dióxido de carbono emitidos pela destruição de matas. O desmatamento responde por quase 20% de todas as emissões do gás no mundo. Robert Zoellick disse que a estimativa é de que seriam necessários US$ 5 bilhões por ano para chegar ao desmatamento zero no mundo, de acordo com os números contidos no relatório lançado no ano passado pelo economista britânico Nicholas Stern. "Se não nos concentrarmos em manter as florestas tropicais que restam no planeta, vamos estreitar drasticamente as opções para reduzir as emissões de gases do efeito estufa", disse Zoellick. O dinheiro do fundo deve ser aplicado em projetos nos cerca de 20 países que têm grandes extensões de florestas tropicais. No futuro, a idéia seria disponibilizar o dinheiro para planos regidos por mecanismos de redução de emissões por desmatamento e degradação (os chamados REDD) em países em desenvolvimento. O BID planeja ainda um segundo "mecanismo de financiamento de carbono", no valor de US$ 200 milhões, para permitir a implantação de projetos-piloto que permitam ganhar créditos de carbono em troca da redução de desmatamento. Atualmente, ainda não é possível o funcionamento no mercado de projetos de REDD, porque o Protocolo de Kyoto, que instituiu o mercado de carbono, não prevê o pagamento de créditos de carbono pela diminuição do desmatamento. Por isso, atualmente, crédito gerados dessa forma só podem ser vendidos em mercados voluntários. Entre os países que já declararam interesse em participar de mercados de carbono gerados por REDD estão Papua Nova Guiné, Costa Rica e Indonésia. O governo brasileiro rejeita a idéia. O investidor brasileiro Marco Antônio Fujihara, do fundo de investimentos Sustain Capital, elogiou a iniciativa do banco, e aproveitou para criticar a postura do governo brasileiro contra os mecanismos de mercado para REDD. "para o Banco Mundial, é muito mais importante entrar logo no mercado voluntário de carbono do que discutir o parágrafo da convenção", disse Fujihara, em uma referência às discussões do Brasil sobre o artigo que menciona o desmatamento na convenção. O lançamento do projeto do banco foi criticado do lado de fora do centro de convenções em que acontece a reunião de Bali, por manifestantes que mostravam desenhos de indígenas sendo isolados de suas florestas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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