Reunião do clima começa em meio a incerteza sobre acordo

Premiê da Dinamarca diz que reunião é 'oportunidade que o mundo não pode se dar ao luxo de perder'

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Por Eric Brücher Camara
Atualização:

O primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Loekke Rasmussen, abriu a 15ª reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague dizendo que a reunião é uma "oportunidade que o mundo não pode se dar ao luxo de perder". Perante representantes de 192 países, Rasmussen defendeu a necessidade de se chegar a um acordo "forte e ambicioso" definindo as diretrizes do combate ao aquecimento global que substituirão o Protocolo de Kyoto. A reunião está prevista para durar duas semana, e a ideia é de se chegue a um acordo até o dia 18 de dezembro. Mais de 15 mil pessoas devem passar pelo Bella Center. Cerca de cem líderes internacionais já confirmaram presença para os últimos dias do encontro, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente da França, Nicolas Sarcozy, e outros das maiores potências mundiais.

 

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No domingo, o secretário-geral da convenção da ONU para o clima, Yvo de Boer, disse à BBC que o encontro marca uma "virada" nos debates sobre o tema, dizendo estar mais otimista do que nunca por causa do número "sem precedentes" de propostas de países. Boer e os mais otimistas ganharam um argumento a mais no domingo, com o anúncio da África do Sul de cortes de 34% nas suas emissões nos próximos dez anos. O plano prevê que os cortes atinjam um pico de 42% em 2025 e depois se estabilizem e comecem a cair. A África do Sul foi o quarto país de economia emergente, depois do Brasil, da China e da Índia, a prometer cortes de emissões recentemente. Os anúncios, entanto, por não representarem metas obrigatórias e, sim, voluntárias e não sujeitas à verificação pelo acordo, não resolvem um dos principais focos de divisão entre países ricos e em desenvolvimento. As diferentes posições entre os dois grupos são apenas um dos assuntos que devem causar polêmica nestas próximas duas semanas. O recente escândalo detonado pela publicação de milhares de arquivos e emails pessoais da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, também prometem aquecer as discussões. Os emails, trocados por cientistas sobre como apresentar dados sobre o clima, vêm sendo usados como suposta prova de que as pesquisas sobre aquecimento global foram manipuladas. Defesa do IPCC Os chamados "céticos", aqueles que discordam do consenso científico representado pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), usaram o material para fortalecer o argumento de que o aquecimento global é fruto de manipulação de dados. No entanto, um comunicado do IPCC defendeu neste domingo os relatórios do grupo, afirmando que estão cientificamente corretos e que o aquecimento global é "inequívoco". Yvo de Boer também comentou o caso, dizendo não acreditar que exista qualquer outro processo "tão completo, tão detalhado" quanto o do IPCC. Os cientistas do IPCC concluíram com 90% de probabilidade que o aquecimento do planeta provocado pela atividade humana foi de cerca de 0,7ºC. Para que a temperatura da Terra não ultrapasse a barreira dos 2ºC, considerada "segura", o IPCC recomendou que as emissões de gases que provocam o efeito estufa sejam reduzidas entre 25% e 40% (em comparação com 1990) até 2020. Na reunião em Copenhague, representantes de 192 países vão tentar superar as diferenças para chegar a um acordo que estabeleça novos cortes obrigatórios de emissões para os países ricos e voluntários para os em desenvolvimento, além da provisão de fundos para adaptar os países mais pobres e vulneráveis às mudanças climáticas e financiar ações contra o desmatamento, responsável por entre 12% e 20% das emissões mundiais.

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