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Retardar a catástrofe amazônica

Uma das causas do drama atual é conhecida há anos: o consumo de carne

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Por Gilles Lapouge
Atualização:

Os incêndios, as chamas, as cinzas e as brasas da Amazônia continuam a ser manchete na imprensa francesa, mas as análises se aperfeiçoam. São buscadas soluções para evitar ou pelo menos retardar a catástrofe na Amazônia.

Diversas associações, entre elas a SHERPA, especializada na assistência a vítimas de crimes econômicos, esclarecem que, além da responsabilidade do Brasil e de Bolsonaro, a culpa é também das empresas francesas pelos incêndios na Amazônia. SHERPA lembra inicialmente que os incêndios têm por fim estender as culturas de soja para produção de aves e gado para consumo. No caso dos alimentos transgênicos, regados com pesticidas que poluem os solos, a soja é produzida no âmbito do processo de açambarcamento de terras em prejuízo das populações indígenas.

Há evidências de que adestruição da floresta tropical teria um impacto devastador sobre as temperaturas globais, sobre os padrões climáticos e a agricultura Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Tudo isto em seguida é adquirido nas grandes áreas. Empresas francesas são questionadas: Bigard, o grupo Bertrand (Quick e Burger King) e E.Leclerc. De fato, essas companhias não conseguiram traçar a proveniência da soja que entra em suas cadeias de aprovisionamento e assegurar que ela está isenta de qualquer desmatamento. “É preciso acrescentar que Carrefour e Casino, que possuem redes de supermercado no Brasil, estão especialmente envolvidos” . “As empresas do setor agroalimentar não são as únicas implicadas. Em seu relatório sobre a Amazônia, Amazon Watch já citava as empresas francesas Guillemette ET Cie e o Groupe Rougier, que importam madeira da Amazônia de zonas onde existem fortes suspeitas de exploração florestal ilegal.

O Tribunal Penal Internacional informou que a partir de setembro de 2016 passará a analisar crimes que “implicam devastações ecológicas, exploração ilícita de recursos naturais ou expropriação de terras”. “E o texto de William Bourdon conclui: “Ora, a política de Bolsonaro infringe várias práticas condenadas pelo Estatuto de Roma, que entrou em vigor em 2002”. Outro ângulo foi analisado por Romain Espinosa, do CNRS da Universidade de Rennes. O título do seu artigo é claro: “Podemos salvar a floresta continuando a comer carne?” “Uma das causas do drama da Amazônia é conhecida há anos: é o consumo de carne, sobretudo nos países europeus e norte-americanos e de maneira crescente na Ásia. Em 2015 um europeu consumia 61 quilos de soja, sendo que 57 quilos eram de maneira indireta através dos animais alimentados com soja, o mesmo valendo para os ovos, o peixe, o leite, que ele consome.

Romain Esposito cita um estudo da Poore et Nenecek de 2OI8 na revista Science: “100 quilos de proteína de vaca necessitam em média de 164 m² de terreno por ano. Pelo contrário, não são necessários mais do que 3,4² para produzir 100 gramas de proteína de ervilha e 2,2² para 100 gramas de proteína de tofu. Conclusão: passar a comer legume e vegetais parece ser uma solução imperativa na luta contra o aquecimento do clima: serão menos florestas desmatadas, menos consumo de água, menos acidificação dos solos (...). A luta contra a mudança climática  não deve se reduzir a colocarmos somente vegetais no nosso prato. Mas ela não poderá ser levada a cabo sem isto. Em nota, o Carrefour informou que os temas ambientais são transversais ao negócio do grupo no mundo e inseridos na agenda da companhia, que mantém programas de produção sustentável de alimentos e de manutenção da biodiversidade. Segundo o texto, o Grupo Carrefour "atua para conscientizar e engajar as cadeias produtivas, especialmente pecuária e soja, em modelos mais sustentáveis e trabalha para inibir a produção em regiões desmatadas, em áreas de proteção ambiental e terras indígenas". Procurado pela reportagem, o Burger King informou que a rede brasileira atua de forma independente da francesa. /Tradução de Terezinha Martino

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