Resgate de onça foi realizado por terra, pelo rio e pelo ar

'Ousado' viajou mesmo sem estar sedado; volta ao habitat será ainda mais difícil

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Por Vinícius Valfré
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Foi uma viagem da onça-pintada pela vida. Ousado estava prostrado na beira do Corixo Negro, um dos rios do Pantanal, sem força nem para se alimentar. Uma seta com sedativo disparada por um veterinário deu início, no dia 11, ao resgate e transferência do bicho para tratamento em Goiás.

A partir do rio, a primeira escala do trajeto do felino foi ainda naquele dia, numa fazenda do interior de Poconé. Ali, um helicóptero Super Cougar (UH-15), da Marinha, aterrissou para depois voar cerca de 240 quilômetros até o Aeroporto de Cuiabá. No terminal, a gaiola com Ousado foi posta em uma caminhonete do Corpo de Bombeiros para os 12 quilômetros até o câmpus da Universidade Federal de Mato Grosso. Na noite do dia seguinte, o animal partiu em uma van com vidros escuros para uma viagem de 990 km até Corumbá de Goiás. Monitorado por dois veterinários, Ousado viajou sem sedativos.

Onça-pintada 'Ousado' viajou sem sedativos Foto: Dida Sampaio / Estadão

Mais difícil será a volta. Os incêndios nas matas e pastos de Mato Grosso ativam etapas sequenciais de prejuízos às onças, à biodiversidade. Com uma área mais restrita para circular, aumentam as chances de conflitos entre os próprios felinos. Por outro lado, as presas morreram em massa. As pintadas que sobreviveram ao fogo agora precisam driblar a escassez de água e comida.

Antes de preparar a devolução do Ousado, técnicos do governo devem esperar a chuva prevista para o fim de outubro. As águas ajudarão na rebrota de vegetações rasteiras que nutrirão a parte de baixo da cadeia alimentar e poderão devolver algum equilíbrio ao ecossistema. Mesmo com o cenário de chuvas, será preciso monitorar como os sobreviventes responderão às mudanças drásticas nas condições de vida.