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Recuperação do solo é mais cara na região

Desmatar uma nova área é em geral mais barato do que recuperar um pasto degradado; no sul do Amazonas, o custo da recuperação é multiplicado pela má logística

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

A ambivalência e a falta de política clara sobre a ocupação - ou não - da Amazônia explicam a combinação de devastação e pobreza na região. O maior símbolo disso é a Transamazônica. Apesar do nome pomposo, no Amazonas, ela é uma estrada de terra que se transforma na avenida principal das pequenas cidades que cruza. No Pará, Mato Grosso e Rondônia, ela tem trechos asfaltados.

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O governo resiste a asfaltá-la no Amazonas, com receio de que isso estimule o desmatamento. Há precedentes do surgimento de "espinhas de peixe", o desenho do desmatamento nas margens de rodovias que foram asfaltadas. Entretanto, a falta de infraestrutura na região também estimula o desmatamento.

Desmatar uma nova área é em geral mais barato do que recuperar um pasto degradado. Mas, no sul do Amazonas, o custo da recuperação é multiplicado pela má logística. A tonelada do calcário, usado na correção do solo, sai por R$ 15 de Cáceres (MT), e chega a Apuí por R$ 380, depois de percorrer 1.800 km.

O prefeito de Apuí, Admilson Nogueira (Pros), tenta organizar a logística para que o calcário venha, por hidrovias, de Itaituba (PA). Apuí até tem reservas de calcário, mas seria preciso atravessar a Floresta Estadual de Sucunduri para trazê-lo.

Os índios da Terra Indígena Tenharin Marmelos ainda cobram pedágio de R$ 70 das carretas, R$ 60 dos caminhões, R$ 20 das caminhonetes, R$ 15 dos carros pequenos e R$ 10 das motos -na ida e na volta, encarecendo os custos. Eles argumentam que, graças a essa receita, deixaram de vender madeira ilegalmente.

A própria ocupação do sul do Amazonas, que atraiu madeireiros e fazendeiros do Sul e do Sudeste, nos anos 80 (o assentamento Juma, por exemplo, começou em 1982), é contraditória com as políticas atuais. O Incra obrigava os colonos a desmatar 50% das áreas, que era o índice permitido por lei, para garantir o direito sobre elas. O senador e ex-governador Eduardo Braga (PMDB-AM) salienta que os amazonenses nativos se contentam com a agricultura de subsistência, com 5 a 10 hectares de plantio. "São os imigrantes que desmatam."

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