11 de dezembro de 2009 | 00h01
A proposta de REDD levada pelo governo brasileiro para a Conferência do Clima de Copenhague está longe de ser consenso entre ONGs ambientalistas e movimentos sociais. Parte deles acredita que o mercado não é o espaço capaz de regular as relações de produção na floresta. Mas há um ponto em comum entre os que defendem e os que repudiam a adoção do mecanismo: a necessidade de acordos que obriguem os países do Norte, os grandes poluidores do planeta ao longo da história, a reconhecerem a sua dívida climática e a se comprometerem com a reparação.
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Na avaliação do diretor de campanhas do Greenpeace no Brasil, Sérgio Leitão, a REDD tem um duplo problema. “Primeiro, não resolve a conta, pois o emissor que busca compensação vai continuar poluindo. Segundo, elimina a real discussão, que é a distribuição de recursos para o desenvolvimento de uma economia limpa.”
Parte do movimento ambientalista teme que a REDD seja um salvo conduto para poluidores. “Até os latifundiários da agricultura mecanizada no Brasil estão agora falando em compensação. É imoral”, diz Leitão. “É como se você tivesse de perder peso e contratasse alguém para fazer os exercícios.”
Para Leitão, há ainda uma questão de soberania. “O Brasil é soberano na hora de desmatar, mas fica passando o pires na hora de resolver o problema. O que pode acontecer é uma transferência brutal de responsabilidades, do Norte, poluidor histórico, para o Sul”, diz.
Em outubro, 50 instituições assinaram em Belém um documento repudiando a REDD como iniciativa de mercado. “As propostas de REDD em debate não diferenciam florestas nativas de monoculturas extensivas de árvores, e permitem aos atores econômicos – que historicamente destruíram os ecossistemas e expulsaram as populações que vivem neles – encontrarem nos mecanismos de valorização da floresta em pé maneiras de continuar a fortalecer seu poder econômico e político em detrimento dessas populações”, diz a Carta de Belém, assinada, entre outros, pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri).
“Não somos contra o mecanismo como tentativa de evitar o desmatamento. Somos contra a utilização compensatória pelo mercado”, diz Graça Costa, coordenadora da Fase Amazônia.
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