Primo do governador do Pará, deputado diz que ação da PF contra garimpo ilegal é 'cena hollywodiana'

Deputado federal José Priante (MDB-PA), primo do governador Helder Barbalho, criticou ações da PF em entrevista ao Estadão. Polícia Federal destruiu máquinas utilizadas no garimpo ilegal

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – O deputado federal José Priante (MDB-PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), criticou as ações da Polícia Federal contra o garimpo ilegal que assola a região de Itaituba. Na segunda feira, 14, a PF deflagrou a Operação Caribe Amazônico, nas proximidades da terra indígena Munduruku, com o objetivo de reprimir atividades de garimpo ilegal no Rio Tapajós, por meio da apreensão de materiais e destruição de maquinários utilizados na prática ilegal.

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Em entrevista ao Estadão, Priante disse que a operação “é um espetáculo que está sendo feito”, ao referir-se à queima dos equipamentos. “Salvo o Greenpeace, qualquer pessoa se assusta com uma atitude dessa. É uma operação de guerra, uma ação hollywoodiana”, comentou.

Nesta quarta-feira, a operação da PF, que teve apoio de agentes do Ibama e Funai, contabilizou a destruição e apreensão de 17 escavadeiras hidráulicas na região, 26 motores-bomba, duas antenas de satélite, duas motos, um carro, uma balsa, três geradores e um trator esteira. Foram ainda destruídos 14 acampamentos e 39 mil litros de combustível.

José Priante disse que esteve no Palácio do Planalto para protestar contra a destruição das máquinas. “Fui com o prefeito de Itaituba, Valmir Climaco (MDB), para fazer um registro de que estão tocando fogo, destruindo os equipamentos. É uma ação de pouca inteligência, destruir ativos que podem ser utilizados por prefeituras, é algo desinteligente”, comentou.

Com objetivo de reprimir atividades de garimpo ilegal no Rio Tapajós, a Polícia Federal deflagrou a operação Caribe Amazônico nesta semana no Pará Foto: Polícia Federal

Segundo parlamentar, que é autor de um projeto de lei de 2017 que tenta impedir a destruição de bens apreendidos em ação ambiental criminosa, os fiscais fazem “algo espetaculoso” e essa atitude merece revisão. “Não estou defendendo o garimpo ilegal, mas a não destruição de equipamentos. Que coloquem para leilão ou vendam. Fomos ao Palácio do Planalto para fazer um registro do que pensamos. Não dá para destruir”, disse.

O deputado disse que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, se comprometeu em levar o assunto ao presidente Jair Bolsonaro, que já deixou clara a sua posição contrária à destruição de equipamentos em outras operações realizadas em parceria entre PF, Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).

Questionado sobre o bloqueio que manifestantes fizeram à sede do ICMBio na madrugada desta quarta-feira, 16, em protesto contra as ações policiais, o deputado afirmou que “violência gera violência”.

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“A gente ouve e sabe disso desde cedo. Tem entre 50 mil e 100 mil garimpeiros na região. Vai ser na base de bomba, de destruição? A forma com que a situação está sendo tratada está gerando reações”, disse. “É um desperdício destruir ativos. Eu sou a favor de que seja coibida a atividade irregular, mas estão criando um clima de guerrilha.”

José Priante disse que não defende o garimpo ilegal, que reconhece o ato como ilegalidade, mas cobra o fim da destruição das máquinas. “Não estou defendo o garimpo ilegal, a irregularidade, mas afirmo que garimpeiro não é bandido. É desinteligente destruir o equipamento. Não tem ambientalista que me justifique isso. É um desperdício destruir ativos. Eu sou a favor de que seja coibida a atividade irregular. Está se criando um clima de guerrilha.”

A destruição de máquinas é uma ação prevista em lei. A queima de equipamentos não apenas inviabiliza financeiramente o crime, como, em muitas ocasiões, é uma medida para garantir a segurança dos próprios agentes, dado que a remoção pode ser complexa e arriscada, com riscos de emboscada.

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A reportagem questionou a Casa Civil sobre o assunto, mas não houve retorno. Segundo José Priante, o ministro Ciro Nogueira se comprometeu em levar o assunto ao presidente Jair Bolsonaro. 

Por meio de nota, o Ministério da Justiça declarou que "a Força Nacional de Segurança Pública atua região de Itaituba desde janeiro deste ano, em apoio ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), nas ações de proteção ambiental nas áreas de atuação do órgão, com ênfase no combate ao desmatamento, extração ilegal de minério e madeira, invasão de áreas federais e combate aos incêndios na vegetação".  Neste momento, afirmou o MJ, "o efetivo atua na segurança da sede do ICMBio na região, para manutenção da ordem pública".

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