Preservação vira peça chave para crescimento econômico

Meio ambiente é questão estratégica para deesenvolvimento, dizem especialistas durante debate

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Por Wagner G. Barreira
Atualização:
"O Brasil é tido como caso exemplar no que diz respeito às questões ambientais. Isso era verdade há dez anos, hoje não é mais", disse o professor Ricardo Abramovay Foto: Felipe Rau/Estadão

SÃO PAULO - O quinto debate da série Fóruns Estadão Brasil 2018, em parceria educacional como o Insper, realizado na manhã da última quinta-feira, na sede do instituto, em São Paulo, trouxe uma visão diferente sobre o meio ambiente, tema do encontro. Foi-se o tempo em que as discussões ambientais diziam respeito somente a especialistas e militantes. Para todos os participantes do debate, a questão ambiental será o fator chave para o desenvolvimento do País no século 21. “Nada simboliza mais a necessidade de uma agenda construtiva que o meio ambiente”, afirmou o vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, na abertura do evento. “Hoje se fala em mudança ambiental global, não mais em mudanças climáticas”, disse Patrícia Pinho, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, que participou da mesa Evidências de danos ao meio ambiente, aquecimento global e riscos para a sociedade. Não se trata de simples mudança retórica. A atenção ao ambiente, um fenômeno mundial e não apenas brasileiro, vem em função do alerta do crescimento da média de temperatura no planeta, que vai subir entre 2° C e 4° C até 2050. Essas mudanças já são observadas no Brasil, como na seca que ameaça o abastecimento hídrico de São Paulo. “Temos de pensar o meio ambiente de forma diferente, interconectada e global”, afirmou Patrícia Pinho. "O País está perdendo o bonde”, diz Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. “O Brasil é tido como caso exemplar no que diz respeito às questões ambientais. Isso era verdade há dez anos, hoje não é mais.” Para Abramovay, o Brasil está atrasado na nova integração orgânica entre crescimento econômico e meio ambiente. “China e Índia estão aproveitando essa oportunidade.”

Cadeia de valor. Os debatedores insistiram que o meio ambiente deve ser incorporado à cadeia de valor do produto. “Não pagamos pelo que consumimos, o ambiente não entra no cálculo de preços. Isso tende a acontecer, mas não na velocidade necessária. Não temos esse tempo”, disse Abramovay. Como fazer isso? O físico José Goldemberg, ex-reitor da USP, membro do Instituto de Energia e Ambiente, disse que, no processo de industrialização, “não precisamos seguir os modelos de países que já passaram por isso”, “Há um termo em inglês para isso, leapfrog (pulo do sapo).” O termo explica o desenvolvimento econômico que salta etapas clássicas. Para Goldemberg, ações humanas sobre a natureza, como a construção de hidrelétricas, precisam ser avaliadas em relação a seu custo-benefício, tanto para as populações locais como para grupos que serão atendidos pelas medidas. Segundo Marina Grossi, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), “existe uma preeminência de mudanças de paradigmas” quando o assunto é meio ambiente. “É preciso soluções conjuntas entre empresas, setores da sociedade e governo”, afirmou Marina. O modelo clássico de crescimento econômico do século 20, segundo o economista Sérgio Besserman, não serve mais. “Desenvolvimento separado da conservação não tem sentido. No século 21, a conversa é completamente diferente. Somos 7 bilhões e o impacto ambiental de um jovem de periferia é igual ao de dom João VI”, exagera. Para o economista, o Brasil está diante de uma grande oportunidade: “Como o centro dinâmico está se alterando na direção das novas tecnologias, para o Brasil, os custos são menores e existe a chance do País embarcar no trem do século 21.”

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