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Preservação da bacia do Guarapiranga abre mercado para agricultura sustentável

Reportagem finalista do 2.º Prêmio Tetra Pak de Jornalismo Ambiental

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Por Redação
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Roberta Costa Gonçalves de Almeida, 38 anos (PUC-PR)* Um protocolo de boas práticas agrícolas é a aposta da cidade de São Paulo para melhorar a qualidade da água fornecida pela bacia do Guarapiranga e, de quebra, fertilizar os negócios de agricultores locais. O documento faz parte do projeto Guarapiranga Sustentável e será seguido por sete municípios da região (São Paulo, Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra, Cotia e Juquitiba). São Paulo foi o primeiro a aderir ao Protocolo. O projeto é desenvolvido pelas secretarias do Meio Ambiente e de Agricultura e Abastecimento. Araci Kamiyama, coordenadora do Guarapiranga Sustentável, adianta as bases da iniciativa: "A ideia é mudar para sistemas sustentáveis de produção, utilizando método orgânico, sem agrotóxicos. Propomos uma ação conjunta entre agricultores, escolas, comercialização e consumidores. O protocolo seria um dos primeiros passos", explica. Iniciado em 2009, o projeto surgiu após um estudo da Universidade de São Paulo (USP), em 2008, encomendado pelo Ministério Público. Os resultados constataram níveis depoluentes como chumbo acima do recomendável nas represas Billings (100 vezes a mais do que permitido) e Guarapiranga (23 vezes superior ao limite aceitável). A agricultora Massue Shiravawa aderiu ao protocolo do Guarapiranga e revela que o segredo é cultivar a paciência: "Preparar a terra sem os agrotóxicos leva tempo. Mas, o resultado é muito bom, a qualidade da terra é outra". A pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo e doutora em hidrogeologia Mara Iritani comenta a questão: "O uso de produtos químicos e o descarte inadequado das embalagens de agrotóxicos podem acarretar a contaminação do solo e da água subterrânea", alerta. Arpad Spalding, que atua em uma ONG de valorização dos recursos naturais, destaca que é preciso enxergar também o aspecto empreendedor desse processo: "A agricultura sustentável é um negócio com demanda cada vez mais crescente e fidelização dos clientes". Já Massue é mais cautelosa. A agricultora acredita que ainda é preciso o consumidor se conscientizar sobre a importância de ingerir orgânicos. Adriana Simas, dona de casa que frequenta a feira de orgânicos do Parque Ibirapuera há um ano, confirma a tese da agricultora: "No começo, não tinha muitas informações. Mas minha filha teve um problema no intestino, e fomos obrigados a mudar radicalmente a dieta", admite. Há, no entanto, um consenso de que o produção sustentável no Guarapiranga deve continuar, seja para a saúde da água (e das pessoas), seja para a saúde dos negócios, como resume Spalding: "Está mudando muito a cara da região: produtos saudáveis, orientação para as escolas, além de excursões e roteiros turísticos, que também são atividades lucrativas", avalia.*finalista do 2.º Prêmio Tetra Pak de Jornalismo Ambiental

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