Plano de arborização da cidade de SP deve incluir vagas verdes e novos viveiros

Proposta pública que será lançada em setembro também vai priorizar Mata Atlântica; projetos comunitários mostram que mudanças dão certo

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Por Priscila Mengue
Atualização:

Seis anos após ter a elaboração determinada pelo Plano Diretor, o Plano Municipal de Arborização Urbana deve ser concluído ainda este mês, segundo a Prefeitura de São Paulo. Ele servirá de base para definir o planejamento, a implementação e a gestão de medidas relacionadas ao tema pelos próximos 20 anos.

A minuta inicial do plano reúne 219 propostas de ações. Dentre elas, estão a criação de uma listagem de espécies prioritárias, a identificação de locais potenciais para quatro novos viveiros, a especialização do Harry Blossfeld em Mata Atlântica e o estabelecimento de diretrizes para a atuação de concessionárias de distribuição de energia (como o fornecimento de mudas e insumos à Prefeitura como compensação para o volume de massa verde perdido com podas).

Viveiro Manequinho Lopes, o mais antigo da cidade, com mais de 90 anos. Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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A criação de diferentes bancos de dados é um dos elementos mais destacados, com focos distintos, como o controle do fluxo de mudas, o rastreamento de mudas em projetos de restauração florestal (com data e local do plantio, por exemplo) e a disponibilidade de áreas para plantio, dentre outros.

A proposta discute, ainda, mudanças relacionadas aos Termos de Compromisso Ambiental (TCA), como, por exemplo, a obrigação que o plantio de compensação de obras privadas ocorra exclusivamente em áreas públicas próximas do imóvel e a aplicação de sanções legais por descumprimento ainda durante o processo.

Algumas ações propostas também indicam a criação de vagas verdes em áreas antes destinadas ao estacionamento de carros, fazendo extensões da calçada destinadas ao plantio de árvores. A minuta indica até a realização de um mapeamento junto à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para identificar locais com potencial para esse tipo de uso. Essa mudança tem ganhado espaço fora do País. Em São Paulo, um programa da Subprefeitura da começou a aplicar a ideia neste ano.

A minuta ainda prevê a elaboração de outros materiais, como um Plano de Gestão dos Parques Urbanos (que indique áreas e normas de plantio e manejo), de Planos Regionais de Arborização (por subprefeitura) e a criação de um inventário das árvores da cidade.

Ações comunitárias mostram que é possível melhorar arborização de São Paulo

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Enquanto essa ação municipal não ocorre, iniciativas de moradores, coletivos e ativistas têm mostrado que é possível modificar a situação, com o plantio de árvores nativas adequadas para áreas urbanas em canteiros, praças e calçadas.

Um caso conhecido é o do empresário Hélio da Silva, que plantou algumas milhares de árvores no entorno do Córrego Tiquatira, na zona leste. Outro caso são dos movimentos “Muda”, como o Muda Mooca, o Muda Ipiranga, o Muda Leopoldina e outros focados em diferentes distritos paulistanos.

“Tem muita coisa para falar, tem a falta de plantio, a falta de manutenção, a falta de fiscalização de árvores com colo cimentado, tem umas série de coisas”, lamenta o advogado Danilo Bifone, que já plantou mais de 20 mil árvores pelo Muda Mooca.

Plano Municipal de Arborização trará diretrizes para os próximos 20 anos de São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Outro projeto que já mostrou resultado é o das florestas de bolso, idealizado pelo botânico Ricardo Cardim e com apoio da iniciativa privada, que busca criar áreas verdes com espécies de Mata Atlântica em meio ao ambiente urbano. Ele garante que, se bem feito, a necessidade de manutenção é quase nula.

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Para Cardim é preciso fazer uma lista de espécies prioritárias, que tenham valor histórico, cultural, biológico e adequadas para a infraestrutura urbana. “Se tiver muda de boa qualidade e o plantio for em época correta, elas crescem sozinhas”, diz. “Percebo baixa qualidade das mudas, mudas que parecem mais um graveto seco do que uma árvore. Se houvesse rigor na qualidade, teria muito mais sucesso na arborização.”

Ele ainda destaca a necessidade de treinamento das equipes que atuam em áreas públicas. Um dos problemas decorrentes dessa falta de orientação é o uso de roçadeiras a gasolina para cortar grama, que acabam arrancando a casca da base da árvore, o que pode levar à perda da circulação da seiva e morte. “Eu já perdi muita árvore plantada (em projetos em áreas públicas) por causa disso.”

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