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Pantanal já perdeu 16% de sua vegetação nativa

Bioma, que era considerado o mais preservado, tem uma taxa de degradação anual de 500 km², provocada pela conversão de campos naturais por pastos exóticos

Por Giovana Girardi
Atualização:

PANTANAL DE MIRANDA - Maior planície inundável do mundo, com campos naturais que tradicionalmente foram ocupados por gado solto, em uma pecuária extensiva considerada sustentável, o Pantanal está perdendo área para pastagens exóticas e observa a soja chegando ameaçadora a partir do vizinho Cerrado.

Monitoramento feito pelo Instituto SOS Pantanal divulgado ontem aponta que o bioma já perdeu, até o ano passado, 15,7% da sua área de vegetação nativa, ou 23.700 km², um pouco maior que o Estado do Sergipe. O principal motivo é essa conversão para gramíneas não nativas, como a africana braquiária, para uma intensificação da pecuária.

 

O problema vem crescendo desde o início do século. Em 2002, a estimativa era de perda de apenas 10,9% da vegetação nativa. A alta até agora é de 44%, num ritmo de conversão de cerca de 500 km² por ano. Essa velocidade assusta quando comparada com valores da Amazônia, bioma 27 vezes maior, e que perdeu, em média, nos últimos anos cerca de 5 mil km². 

Campos naturais, como este, estão sendo substituídos por gramíneas, como a braquiária Foto: Juliana Arini

A pressão ao bioma também vem do que ocorre em seu entorno. Por isso o trabalho destaca as alterações sofridas em toda a Bacia do Alto Paraguai, onde o Pantanal está inserido. A planície pantaneira é cercada por terras altas, onde se encontram as nascentes dos rios que vão irrigá-la. No planalto, houve alteração humana em 61% da área (ou 132.592 km² – um pouco maior que a Grécia), especialmente pela expansão da pecuária e da soja. 

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Em toda a bacia, 55,5% da área já foi dominada por pastagem, sendo 17% disso no Pantanal. A agricultura já cobre 11,7% da área total, sendo 1% na planície. A soja vai chegando pelas bordas, ao norte do bioma e ao sul, na região de Bonito. “A soja não pode ser inundada, ou morre, então para vir para cá teriam de ser feitos drenos. Mas se fizer isso acaba com o Pantanal. Fizeram isso em Bonito e isso já inviabilizou o esquema de mergulho em uma fazenda”, diz Felipe Dias, diretor executivo do Instituto SOS Pantanal.

Por um lado, essas modificações nas nascentes no planalto já levaram a assoreamento dos rios. Os sedimentos que chegam à planície acabam se acumulando, provocando, em algumas regiões, inundações ainda maiores do que as habituais. Por outro lado, a perda de vegetação impacta a própria oferta de água. 

Esponja. “O Cerrado (no planalto) é um grande aquífero. De origem arenítica, funciona como uma esponja que armazena água. Por isso, apesar de só chover no verão e ser seco no inverno, os córregos continuam correndo porque o aquífero os abastece. Ma se retira a vegetação, a água não infiltra, e o volume de água que desce para a planície é menor”, explica Dias. 

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Por conta disso, os pantaneiros têm observado que as cheias diminuíram, alterando o regime característico do Pantanal. “A instalação de atividades no planalto já causou mal aqui. Imagine se vierem mais para cima da planície?”

Em razão desse cenário, a ONG e outros especialistas em Pantanal defendem a criação de um marco legal específico sobre o bioma, a exemplo da Lei da Mata Atlântica, que proíbe quaisquer novos desmatamentos, exceto com autorizações, como para obras de interesse público.

O tema deverá ser discutido na quinta-feira, em Brasília, no Ministério do Meio Ambiente, com os governadores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde ocorre o Pantanal. O objetivo é construir políticas públicas para a proteção do Pantanal e o desenvolvimento econômico de suas potencialidades, como o turismo integrado com as práticas econômicas que já existem.

* A repórter viajou a convite do Instituto SOS Pantanal

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