Países pobres cobram de ricos corte de emissão de 40%

Mesmo a ONU considera a taxa inatingível; cientistas recomendam um corte de emissões de 25% a 40%

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Por Alister Doyle , Gerard Wynn e Reuters
Atualização:

Os países em desenvolvimento afirmaram nesta quarta-feira que correm risco de "destruição total", a menos que as nações ricas intensifiquem a luta contra a mudança climática para um nível que a Organização das Nações Unidas (ONU) diz estar fora de alcance.

 

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Mantendo a pressão sobre as negociações climáticas da ONU em Barcelona, os países pobres insistiram que as nações desenvolvidas cortem até 2020 as emissões de gases-estufa em ao menos 40% abaixo dos níveis de 1990 - muito mais do que o proposto.

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A presidência sudanesa do Grupo dos 77 e a China, representando os países pobres, afirmaram que mesmo as ofertas mais ambiciosas feitas pela União Europeia eram muito fracas para um novo pacto climático a ser selado em Copenhague no mês que vem.

 

"O resultado disso é condenar os países em desenvolvimento a uma destruição total de seu sustento, de suas economias. As terras e florestas deles serão destruídas. E por qual propósito?", questionou o sudanês Lumumba Sanislaus Di-Aping.

 

"Qualquer coisa abaixo de 40 (por cento) significa que a destruição será oferecida à população e às terras da África", disse ele em entrevista coletiva.

 

Até o momento, os países desenvolvidos planejam cortes entre 11% e 15% em média até 2020 a partir dos níveis de 1990. Os cortes buscam arrefecer a mudança climática, que pode provocar mais secas, inundações, aumento no nível das marés, ciclones mais potentes e disseminação de doenças.

 

No entanto, até mesmo a ONU afirma que cortes de 40% envolveriam uma mudança drástica demais. As nações africanas retomaram as negociações em Barcelona na terça-feira, um dia depois de um boicote parcial.

 

"Acho que chegar a menos 40 é uma suspensão muito pesada", disse Yvo de Boer, chefe do Secretariado de Mudança Climática da ONU. Uma mudança dessas exigiria "voltar à estaca zero" e economicamente "representaria um custo enorme", acrescentou.       

                           

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Di-Aping, no entanto, disse que "em termos reais e absolutos (o esforço) é mínimo". Ele disse que os países ricos gastaram bilhões de dólares para resolver a crise financeira ou para melhorar a defesa.

 

De Boer afirmou, porém, que há uma chance de se fazer cortes maiores que os oferecidos até agora.

 

"Posso ver algum progresso sendo feito para tornar os números mais ambiciosos", disse. Ele afirmou esperar que Rússia e Ucrânia, principalmente, revisem os cortes planejados.

 

Cortes de 40%, como exigido pelas nações africanas, "seriam extremamente difíceis", disse Anders Turesson, chefe da delegação sueca que está na presidência rotativa da União Europeia.

 

"Mesmo se a União Europeia baixasse para zero, seria extremamente difícil", disse. Ele também disse que é essencial que os EUA apresentem um número para os cortes norte-americanos até 2020.

 

Os EUA são o único país fora do Protocolo de Kyoto, e o Senado norte-americano está debatendo um projeto de lei que cortaria as emissões em cerca de 7% abaixo dos níveis de 1990.

 

Um painel da ONU com cientistas especializados em clima afirmou em 2007 que as emissões dos países desenvolvidos deveriam ser cortadas entre 25% e 40% até 2020 para evitar o pior cenário do aquecimento global.

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Os países africanos afirmam que pessoas estão morrendo por falta de água e de alimentos e que o relatório de 2007 subestimou o compasso da mudança.

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