Organização Meteorológica Mundial verifica registros ‘preocupantes’ de calor recorde no Ártico

Região teria ultrapassado 38ºC na última semana, maior nível já observado em toda a história

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Por João Ker
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GENEBRA - A Organização Meteorológica Mundial (OMM) disse na terça-feira, 23, que está tentando confirmar relatos de uma temperatura recorde de mais de 38ºC (100 graus na escala Fahrenheit) na Sibéria, registrado no último dia 20. Os cientistas da agência ligada às Nações Unidas estariam "preocupados" com a onda de calor sem precedentes na história da região, mas afirmaram que os dados parecem consistentes com as tendências do aquecimento global.

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A OMM pediu às autoridades da Rússia que confirmem a leitura de 38ºC (100,4 Fahrenheit) relatada na cidade de Verkhoyansk, ao norte do Círculo Polar Ártico. A agência busca entender ainda se o registro se refere à toda a região ou apenas pontos específicos. "Vimos imagens de satélite hoje de manhã e é apenas uma massa vermelha. É impressionante e preocupante ”, disse a porta-voz da OMM Clare Nullis, durante uma coletiva de imprensa em Genebra.

Caso os números sejam confirmados pela OMM, que ainda pretende avaliar os equipamentos, a calibragem e as técnicas usadas na medição, este seria o maior registro de temperatura observado naquela área desde 25 de julho de 1988, quando o Instituto de Pesquisa do Ártico e da Antártica observou uma alta de 37.3ºC na região. O órgão, que é ligado ao Serviço Federal da Rússia para Monitoramento Hidrometeorológico e Ambiental, compila diariamente os dados climáticos do território desde 1885.

Via aberta na Rota Marítima do Norte, que está se tornando progressivamente navegável com o aquecimento do Ártico. Foto: Alexey Solodov/Alamy, via The New York

O Ártico está aquecendo com o dobro da velocidade da média global e, apenas neste ano, uma primavera siberiana excepcionalmente quente derreteu a neve do solo e quebrou prematuramente a camada glacial dos rios.

O professor Randall Cerveny, relator da OMM sobre extremos de clima e tempo, disse que uma equipe “aceitou provisoriamente essa observação como legítima”, o que seria consistente com outros dados regionais. Ainda de acordo com a agência, a Sibéria experimentou "calor excepcional" no verão deste ano.

"A falta de neve subjacente na região combinada com o aumento geral da temperatura global sem dúvida ajudou a desempenhar um papel crítico ao causar essa observação extrema da temperatura", completou.

Com sede em Genebra, a OMM espera receber notícias da agência meteorológica da Rússia dentro de dias e, em seguida, iniciará seu próprio processo de verificação para averiguar se a temperatura, que é mais típica dos trópicos, configura o maior recorde até então. 

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Ainda em setembro de 2019, após a temporada de degelo, o volume de gelo no mar daquela área diminuiu mais de 50% comparado com o período entre 1979–2019.  Já no mês passado, a temperatura média da Sibéria atingiu um nível 10ºC acima da média, configurando o mês de maio mais quente em toda a história do hemisfério Norte. De acordo com a OMM, a região também registrou um "calor incomum" ao longo de todo o inverno, com "períodos contínuos de temperatura da superfície do ar acima da média". 

Em fevereiro, a OMM já havia dito que uma base de pesquisa na Antártica também registrou a temperatura mais quente de todos os tempos naquele continente. "Mês após mês, estamos surpresos, preocupados com as leituras de temperatura que vemos", disse Nullis. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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