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Onça-parda volta ao Rio de Janeiro após 80 anos; veja registro em vídeo

Câmera do Sítio Burle Marx identificou o felino e pesquisadores conseguiram levantar sinais da presença do animal em unidades protegidas cariocas

Por Roberta Jansen
Atualização:

Uma ilustre moradora que havia abandonado o Rio está de volta à cidade depois de quase um século. A volta da onça-parda (Puma concolor) foi registrada pelas câmeras de segurança do Sítio Burle Marx, em Guaratiba, na zona oeste carioca, e confirmada por um grupo de biólogos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O ressurgimento do felino em florestas do segundo maior município do País é um indicador de que as políticas de preservação e reflorestamento da Mata Atlântica estão funcionando.

Também conhecida pelo seu nome em tupi, a suçuarana – também chamada de leão da montanha e leão-baio - é classificada como espécie vulnerável pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. É considerada oficialmente extinta no Rio, segundo a Lista Municipal de Espécies da Flora e Fauna Ameaçadas (2000).

Onça-parda flagrada por armadilha fotográfica no Parque Estadual do Desengano, no Norte do Estado do Rio Foto: Samir Mansur

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Os últimos registros oficiais de sua presença na cidade são da década de 1930. A boa notícia sobre o seu retorno foi oficializada em estudo científico divulgado na publicação científica Check List em 28 de setembro.

Em junho do ano passado, uma câmera de vigilância do Sítio Burle Marx captou por acaso a imagem da onça, que não era observada há mais de 80 anos. Com a comprovação de que se tratava mesmo da desaparecida suçuarana, biólogos começaram a buscar registros da passagem do felino por outros lugares.

Felinos deixaram pegadas e arranhões que comprovam volta

Os especialistas conseguiram reunir moldes de pegadas e de arranhões deixados em árvores indicando a presença do animal no Parque Estadual do Mendanha, no Parque Estadual da Pedra Branca e na Reserva Biológica de Guaratiba, na zona oeste, próximos do sítio.

"A partir daquela imagem, fomos aos poucos reunindo mais dados que comprovassem o reaparecimento definitivo da espécie, não somente um indivíduo vagando pela região", diz o biólogo Jorge Pontes, um dos autores do trabalho e professor da Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade da UERJ.

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"Conseguimos comprovar que a onça-parda está realmente no município, não são ocorrências isoladas", afirma ele. "Temos registros feitos mais ou menos na mesma época em lugares diferentes. Não devem ser muitas, mas não dá para estimar quantas seriam; qualquer número seria um chute."

Há uma semana, um aluno de Pontes conseguiu uma nova imagem que acredita ser da onça-parda, mas o material ainda está em análise. "O bicho passa muito rapidamente na frente da câmera", explica o biólogo. "Mas pelo porte e o movimento, acreditamos que seja a onça-parda."

Outro dado importante é que o grupo de Pontes registrou no ano passado, na mesma região, a presença do porco do mato ou cateto (Tayassu tajacu). Esse animal também era dado como extinto no município e serve de alimento à suçuarana.

A onça-parda é o segundo maior felino do País. Em tamanho, fica atrás apenas da onça-pintada. A suçuarana é o mamífero terrestre com a mais ampla distribuição geográfica no Ocidente. Ocorre desde Columbia Britânica, no Canadá, até o extremo sul do Chile. Habita tanto florestas densas quanto áreas desérticas.

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No Brasil, ela está presente na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e na Mata Atlântica. Segundo especialistas, ela é capaz de sobreviver até mesmo em áreas extremamente alteradas pelo homem. Ainda assim, a extrema fragmentação da Mata Atlântica no Rio de Janeiro e a ação de caçadores acabaram levando ao seu desaparecimento no município.

Desmatamento abaixo de 100 hectares de florestas por ano no Rio ajuda espécie

Segundo o presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Philipe Campello, há dez anos o Estado do Rio tem conseguido manter uma taxa de desmatamento zero (quando são destruídos menos de 100 hectares de floresta por ano).

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"Ou seja, há dez anos estamos mantendo a nossa cobertura vegetal, que é de cerca de 30%; um percentual considerado razoável para bom", explica Campello. "Quando conseguimos preservar, temos um aumento populacional de indivíduos. E temos tido muitos avistamentos de onça em outros parques estaduais também, como na região serrana."

No artigo, os autores reforçam a importância da conservação da onça e de outros mamíferos ameaçados no Rio, com a criação de políticas públicas voltadas para essas espécies, incluindo manejo adequado e vigilância.

"A importância de termos um animal desse porte, um predador de alto de cadeia alimentar, é que a sua presença indica que ainda temos condições de sustentar esse felino, de que ainda temos uma fauna residual de importância", explica Pontes. Os especialistas garantem que não há risco de ataque a seres humanos. A suçuarana é muito tímida: sua tendência natural é fugir de nós. 

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