O laboratório dos sem-sacolinha

Moradores de Jundiaí mudam rotina após veto a sacolas plásticas nos supermercados, que será ampliado a todo o Estado

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Por Redação
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Sempre que vai ao supermercado em Jundiaí (SP), o aposentado José Carlos Oliveira Delgado, de 82 anos, é parado por alguém que quer saber onde conseguiu o carrinho de compras. “Saio de casa com uma mala e volto com isto”, mostra, enquanto ensina a transformar a mala 007 de plástico trazida do Canadá num carrinho com rodas. “Eu já fazia compras com ele, mas não prestavam tanta atenção.” Delgado usa exclusivamente a mala-carrinho nas compras desde agosto, quando começou a valer acordo da prefeitura com a Associação Paulista de Supermercados (Apas) que veta a distribuição de sacolas de plástico derivado de petróleo. No mês passado, o governo e a Apas estenderam o veto a todo o Estado. Com isso, Jundiaí virou uma espécie de laboratório de novos hábitos que os paulistas terão de incorporar até 25 de janeiro. Um exemplo de adaptação à vida sem sacolinhas é o do personal trainer Alexandre Ienne, de 34 anos. Ienne, que mora sozinho, costumava pedir sacolinhas extras no supermercado para usar nas lixeiras de casa. Agora, acondiciona todo o lixo em um saco maior e o descarrega na lixeira do prédio. “Tinha preguiça de fazer isso, mas é tudo questão de mudar de hábitos.” Presente. A transição ecofriendly teve seus percalços. “No começo esquecia de levar alguma coisa para transportar compras. Saía com as coisas na mão e elas iam para casa jogadas no chão do carro”, diz Ienne, que se acostumou a usar uma ecobag de grife, presente da noiva, Maria Elisa.O personal trainer também passou a recorrer às sacolas de pano fora dos supermercados. “Ia para cima e para baixo com coisas nas sacolinhas de plástico. Para um churrasco, levava tudo dentro delas. Agora uso as de pano que deixo no carro.”A farmacêutica bioquímica Tânia do Amaral, de 57 anos, optou pela praticidade. Ela mora com outras quatro pessoas: o filho, a nora e dois netos, de 2 e 5 anos. A produção de lixo é considerável, agravada pelas fraldas sujas do caçula. Tânia fez as contas e concluiu que sacos de lixo tradicionais seriam mais caros que sacolas biodegradáveis, feitas a partir de amido de milho, vendidas a R$ 0,19 nos supermercados de Jundiaí. “Antes, eu usava as sacolinhas no lixo do banheiro e da cozinha. Continuo usando, só que agora as biodegradáveis.”Segundo a prefeitura, entre agosto e maio 198 milhões de sacolinhas deixaram de ser descartadas em aterros e no ambiente em Jundiaí. Isso equivale a 720 toneladas de plástico.Cético. “Não conseguíamos ver como o consumidor faria essa transição. Eu era um pouco cético”, diz o diretor de Sustentabilidade da Apas, João Sanzovo Neto. “Essa foi a surpresa mais legal: ver que o cliente não só aderiu, como cobrou dos supermercados que não tinham aderido.”Alguns consumidores, porém, acham que o programa deveria avançar mais. Para o aposentado Delgado, embora sobrem opções para levar compras, como sacolas de pano e palha, faltam incentivos para o bolso do cliente. “Seria interessante se o supermercado facilitasse a compra de carrinhos de mão ou de sacolas de pano a preços acessíveis. Mas isso parece utópico, não é?” Cidade reduz em 95% distribuição de sacolas plásticas Nos últimos dez meses, de acordo com a Apas, Jundiaí reduziu em 95% a distribuição das sacolas plásticas. A cidade consumia 22 milhões de unidades por mês, somente nos supermercados. Esse número equivale a 80 toneladas de plástico filme – matéria-prima usada na produção das sacolinhas. De acordo com Patrícia Russi, diretora de Marketing dos Supermercados Russi, que tem 8 lojas na região de Jundiaí, em todas as unidades no município estão à venda sacolas retornáveis e há caixas de papelão disponíveis para o transporte das compras. “As sacolinhas biodegradáveis estão à disposição apenas nas lojas de Jundiaí. Mas já estudamos a possibilidade de levar essa opção as outras cidades nas quais temos loja”, afirma.Segundo a Apas, após a campanha em Jundiaí, a associação foi procurada por representantes de prefeituras de cidades como Monte Mor, Americana, Sorocaba, Ribeirão Preto, Bauru e Marília. Todos interessados em saber mais sobre a iniciativa.

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