Novo estudo confirma que metas deixam o mundo no rumo dos 3°C
12 gigatoneladas de CO2- equivalente serão emitidas ainda a mais do que necessário para manter a temperatura abaixo dos 2°C
Por Giovana Girardi
Atualização:
SÃO PAULO - Com um nível de emissões de gases de efeito estufa da ordem de 52,7 gigatoneladas de gases de efeito estufa em 2014, o mundo teria de reduzi-las a pelo menos 42 gigatoneladas nos próximos 15 anos para impedir que a temperatura média do planeta suba a mais de 2°C até o final do século. Mas as propostas que os países apresentaram de redução de suas emissões de gases até 2030, mesmo se forem completamente cumpridas, farão com que o planeta esteja emitindo ainda mais naquele ano - algo em torno de 54 gigatoneladas de CO2-equivalente. Esse "gap" (lacuna) de 12 gigatoneladas pode fazer a temperatura ficar entre um pouco menos de 3°C a até 3,5°C até 2100.
Essas suas as principais conclusões de um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) que avalia as chamadas INDCs - um pacote de medidas que a maioria dos países do mundo apresentou dizendo quanto conseguiria fazer, a partir de 2020 até 2030, para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. São contribuições nacionais para o acordo que deve ser fechado no final do ano na Conferência do Clima de Paris.
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A nova análise foi feita pelo Pnuma (programa da ONU para o Meio Ambiente). Já há alguns anos eles lançam, às vésperas das conferências do clima, o chamado Gap Report, que compara quanto conjuntamente os países estão fazendo para combater o aquecimento global com quanto eles deveriam fazer para conter o aumento da temperatura a até 2°C - limite considerado mais seguro pela ciência.
O estudo analisou 119 INDCs, de 145 países (a da União Europeia é única para todos os países do bloco), que foram apresentadas à ONU até 1º de outubro. Sem elas, diz o estudo, as emissões seriam entre 4 e 6 gigatoneladas mais altas, se for levada em conta somente as políticas atuais. Ou seja, elas apresentam alguma redução, mas ainda muito distante do que seria considerado o ideal.
Os países mais preocupados com as mudanças climáticas
1 / 21Os países mais preocupados com as mudanças climáticas
9 - Vietnã
Hanói. O Vietnã é o 9º país que mais importa com as mudanças climáticas; o porcentual é de 68% Foto: Nguyen Huy Kham/Reuters
6 - Peru
Machu Piccu. Outro país sul-americano entre os 10 primeiros é o Peru, que aparece com o mesmo porcentual (72%) da Venezuela Foto: Felipe Mortara/Estadão
2 - Burkina Fasso
Ouagadougou. Burkina Fasso é o segundo país que mais se preocupa com o avanço das mudanças climáticas, com 79% Foto: Joe Penney/Reuters
Confira quais são os 20 países mais preocupados com o clima
O Pew Research Center divulgouum levantamento realizado em 40 países sobre opiniões em relação ao aquecimento global e à Conferência do Clima, em Pari... Foto: Centro Britânico Antártico/ReutersMais
20 - Itália
Pisa. Entre os40 países pesquisados, a Itália ocupa a 20ª posição no ranking de maior preocupação (53%) com o aquecimento global Foto: Felipe Cordeiro/Estadão
19 - Alemanha
Berlim. Em 19º da lista está a Alemanha - 55% dos entrevistados mostraram receio com as mudanças climáticas Foto: Carsten Koall/Getty Images
18 - França
Paris. Com o mesmo porcentual da Alemanha (55%), a França aparece na 18ª posição Foto: Charles Platiau/Reuters
17 - Tanzânia
Dar es Salaam. 56% da população da Tanzânia se preocupa com as consequências das alterações no clima, colocando o país no 17º lugar do ranking Foto: Andrew Emmanuel/Reuters
16 - Senegal
Dacar. Outra naçãoafricanaentre as 20 primeiras do ranking é Senegal; com 57%, o país é 16º colocado Foto: Joe Penney/Reuters
15 - Argentina
Buenos Aires. De acordo com o Pew Research Center, 58% dos argentinos se preocupam com a questão do clima, o que faz o país sul-americano ser o 15º da... Foto: Jorge Saenz/APMais
14 - Nigéria
Lagos. A Nigéria é o 14º país que mais se preocupa com as mudanças climáticas (59%) Foto: Akintunde Akinleye/Reuters
13 - Quênia
Nairobi. Na 13ª posição do ranking está o Quênia, onde 61% das pessoas consideram o aquecimento global um problema sério Foto: Daniel Irungu/EPA/EFE
12 - México
Chichén Itzá. O México é o 12º país que mais teme os efeitos das mudanças climáticas (62%) Foto: Sandra Regina Carvalho/Estadão
11 - Líbano
Rashaya. 66% dos libaneses consideraram o aquecimento global uma ameaça grave, o que colocou o país árabe na 11ª posição Foto: Reuters
10 - Gana
Acra. 67% da população de Gana mostrou preocupação com o aquecimento global; país está na 10ª colocação na lista Foto: Reuters
8 - Filipinas
Manila. As Filipinas aparecem na 8ª posição do ranking de preocupação com o clima, com 69% Foto: Murad Sezer/Reuters
7 - Venezuela
La Guaira. Em 7º lugar está a Venezuela, onde 72% da população apresentou temor com as mudanças climáticas Foto: Mônica Nobrega/Estadão
5 - Índia
Forte de Amber.Com 75% da população preocupada com o aquecimento global, a Índia é a quinta colocada do levantamento Foto: Nathalia Garcia/Estadão
4 - Uganda
Hoima. Uganda é a quarta nação que mais se preocupa com as mudanças climáticas; o índice é de 76% Foto: Jakes Akena/Reuters
3 - Chile
Santiago. Com o mesmo porcentual de Uganda (76%), o Chile aparece em terceiro no ranking e fica com a medalha de bronze Foto: Daniel Teixeira/Estadão
1 - Brasil
O Brasil lidera a preocupação com aquecimento global e a defesa de medidas para o combate do fenômeno; no País, o índice é de 86% Foto: Wilton Júnior/Estadão
Concordando com o tom adotado na semana passada pela Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), que também lançou seu relatório analisando as metas, o Pnuma destaca que as ações trazem um sinal sem precedentes de comprometimento dos países com um acordo, a ser adotado em Paris, para que todo o mundo reduza suas emissões, mas é preciso ações rápidas, já nos próximos anos, para aumentar essa ambição.
O relatório propõe que isso poderia acontecer já antes de 2020. Até lá, as nações mais ricas, menos os Estados Unidos, Canadá e Japão, ainda atuam dentro do Protocolo de Kyoto. Muitos dos demais países trabalham dentro de metas voluntárias que tinham sido propostas em 2010, em Cancun. O acordo de Paris só valerá a partir de 2020, mas para o Pnuma, as nações poderiam começar a agir com mais ambição desde antes disso para diminuir o "gap".
Outra proposta é ter um mecanismo dentro do acordo de Paris para que as metas sejam revistas para cima periodicamente, a cada cinco anos, como também propôs a UNFCCC na semana passada.
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"As INDCs deste relatório sinalizam um avanço em termos de esforços internacionais para dobrar a curva de emissões futuras", diz Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma. "Apesar de sozinhas não serem suficientes para limitar que a temperatura global fique nos recomendados 2°C até o final do século, representam um passo histórico em direção à descarbonização de nossas economias", afirma. "No entanto, para fechar essa lacuna, é essencial que o acordo de Paris adote uma dinâmica na qual a ambição, a mobilização de finanças e outras formas de cooperação possam ser ajustadas para cima em intervalos regulares", defende Steiner.