Novo chefe do Inpe diz ser direito das autoridades saber dados de desmate antes

‘Ninguém vai esconder nada’, diz Damião, que defende enviar informações sobre desmate previamente a Bolsonaro; registros sobre perda florestal da Amazônia levou à queda de antecessor

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Por Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA - Anunciado nesta segunda-feira, 5, como novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o coronel da Aeronáutica da reserva Darcton Policarpo Damião assume o cargo com a promessa de dar “transparência total” aos dados sobre desmatamento no País. Em entrevista exclusiva ao Estado, ele apontou “teoria da conspiração” quando se sugere que informações sobre áreas que sofrem desmate podem ser censuradas. Mas, questionado se enviará previamente esses dados para o presidente Jair Bolsonaro, o chefe interino do órgão federal disse ser direito das autoridades conhecer as informações para se defender de eventuais críticas.

Damião é formado em Ciências Aeronáuticas na Academia da Força Aérea (AFA) Foto: Miguel Ângelo/CNI/Divulgação

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“Ninguém vai esconder nada, dado nenhum, até porque não se consegue fazer isso”, afirmou Damião à reportagem durante intervalo de uma aula a alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde é professor. O militar vai substituir no cargo Ricardo Galvão, demitido na sexta-feira após rebater publicamente críticas do presidente Jair Bolsonaro à divulgação de dados que apontam o aumento do desmatamento na Amazônia. Damião, porém, prefere não entrar na polêmica. “Quero olhar para frente, não para trás, pensando no que é melhor para o Brasil.”

Segundo o novo chefe do Inpe, o órgão é “um fornecedor de informações valiosas”, mas pontua que “nenhum dado de imagem é absolutamente preciso”. Damião, de 57 anos, foi indicado ao cargo pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que conhece desde os tempos de academia, há mais de 30 anos. 

Embora de carreira militar, o coronel conhece bem a área. Tem mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Inpe e doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB). Sobre dar acesso prévio aos dados de desmatamento, ele acredita ser direito das autoridades conhecer as informações para poder se defender de eventuais críticas. “É a questão do copo meio cheio, ou meio vazio”, disse ele. “Se tem uma notícia, não custa preparar. O importante é que o inimigo comum é o desmatamento.”

Sobre os problemas que poderá enfrentar na sua chegada ao órgão, depois da demissão de Galvão, o novo diretor disse que “o Inpe é um instituto de excelência”, “com cientistas de alto nível”. “Não podemos reduzir o trabalho a uma querela.”

Galvão tornou situação insustentável, diz ministro

À Rádio Eldorado, o ministro Pontes declarou pela manhã que nomearia um militar para o cargo. E disse que o ex-diretor Ricardo Galvão tornou a situação insustentável ao procurar a imprensa para rebater o presidente Jair Bolsonaro (PSL), em vez de tentar o diálogo. “Se tivesse me procurado, tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. O fato de ter falado direto com a imprensa causou perda de confiança”, afirmou. “Tem influência do presidente (na demissão), mas tem a minha parte, porque se tornou difícil contornar a situação.”

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Sobre o monitoramento do desmatamento, centro da crise entre o Inpe e o governo, Pontes disse que o sistema será alterado, de modo a atender melhor o cliente final, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que responde ao Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Ricardo Salles. “Houve uma dificuldade de comunicação. O Inpe e o Ibama não estavam conversando muito bem. Todo problema começou com o uso incorreto dos dados do Inpe. Os dados do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real) são crus, não podem ser divulgados imediatamente.”

Conforme o Estado mostrou na semana passada, o agregado de alertas online feitos pelo Deter aponta alta de 40% no desmate em um ano. Os satélites observaram perda em 12 meses de 5.879 km² da floresta, ante 4.197 km² entre 2017 e 2018, considerando somente o desmatamento com solo exposto.

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