No interior de SP, barbearia ligada a garimpo ilegal movimentou R$ 12,7 milhões em 11 meses

Investigação da Polícia Federal aponta que estabelecimento era usado para lavar dinheiro de organização criminosa que explora ouro em terra indígena do Pará

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Por André Borges
3 min de leitura

BRASÍLIA - Quem passa pela estreita rua Barão de Cascalho, 513, no centro de Limeira, no interior de São Paulo, se depara com uma moderna barbearia de dois andares. Diferente de pequenos salões de beleza, a Barbearia Barão ostenta ares de modernidade, com seus tijolinhos à vista e portas pretas. Por mais que sucesso que o negócio faça, porém, nada justifica o volume milionário de dinheiro que o salão movimentou em poucos meses. Seria preciso cortar o cabelo não só dos 308 mil habitantes de Limeira, mas de todo o Estado de São Paulo para justificar as contas.

Ocorre que, enquanto clientes cortavam cabelo no salão da barbearia, no andar de cima funcionava mais um braço da organização criminosa de exploração do ouro no Pará, usado para lavar dinheiro. Em apenas 11 meses, entre julho de 2018 e maio de 2019, foram R$ 12,753 milhões em movimentação financeira, o equivalente a R$ 1,150 milhão por mês.

Diferente de pequenos salões de beleza, aBarbeariaBarão ostenta ares de modernidade Foto: Google Street View

As investigações da Polícia Federal mostram que o dono da barbearia, Thiago Tenorio Simonelli, praticamente não saia dos caixas automáticos para depositar dinheiro. Foram 779 depósitos só no período de 11 meses, o que equivale a mais de dois depósitos realizados todos os dias, em média, sem deixar passar nenhum em branco.

Simonelli não atuava sozinho. Tinha ajuda de sua companheira, a investigada Luciene Honorato. Dados levantados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostram que ambos realizavam grandes transações, sempre relacionadas a compra e venda de metais preciosos. Para a empresa Mineradora Carajás, por exemplo, foram repassados R$ 1,234 milhão em 11 meses.

O garimpeiro Francisco Edilson Santiago, apontado como explorador, comprador e vendedor de ouro da terra indígena Kaiapó, no sul do Pará, recebeu outros R$ 175 mil do dono da barbearia. Santiago não tem vínculo trabalhista, nem é sócio de qualquer empresa, mas é proprietário e operador de um avião Cessna e operador de outra aeronave. As investigações apontam que, além de ser garimpeiro, Santiago atua como “laranja” ou “testa de ferro” no esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens. Ele já foi preso e condenado por roubo de uma moto, com uso de arma de fogo.

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“Não existe relação comercial legal que justifique estas transações bancárias. Não há motivo aparente que fundamente que uma barbearia receba tantos valores que advindos do varejo de bijuterias”, afirma o relatório da PF. “Pode-se concluir que a Barbearia Barão, na pessoa de seu responsável, Thiago Tenorio, faz parte desta organização criminosa. Não há razão pra uma pequena barbearia movimentar aproximadamente R$ 12 milhões.”

A Cooperativa de Garimpeiros de Ourilandia e Região (Cooperouri) não se manifestou até o fechamento deste texto. A reportagem não conseguiu contato com a empresa CHM do Brasil. A italiana Chimet SPA foi acionada, mas não se manifestou até esta publicação.

A reportagem não conseguiu contato com os investigados Thiago Tenorio Simonelli, Luciene Honorato, Francisco Edilson Santiago, Arlan Monteiro de Almeida, Hailton Monteiro de Almeida, Gustavo Machado Seixas, Sidney Soares Gomes Brito, Marcus Vinicius Alvarez Guimaraes, Patricia Ferreira Soffa, Douglas Alves de Morais, Fabio Monteiro da Silva, Giacomo Dogi, Walterly Guedes Pereira dos Santos, Vergelina Pereira dos Santos e Andre Felipe Picone Rosa.