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No Brasil, moda eco ainda engatinha, mas ganha fôlego

Até pouco tempo, moda ecológica no País era sinônimo de roupas alternativas; esse conceito está mudando

Por Alice Lobo
Atualização:

Até pouco tempo atrás, moda ecológica no Brasil era sinônimo de roupas e acessórios alternativos que passavam longe das passarelas. Mas esse conceito está mudando: estilistas, organizadores dos principais eventos da área e algumas grifes de peso já começaram a virar o jogo. E isso engloba aspectos econômicos, ambientais e sociais – tanto no desenvolvimento das criações das peças como da sua cadeia produtiva.

 

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A preocupação sócio-ambiental ainda está engatinhando no Brasil, se comparada às iniciativas de Londres e de outras capitais da moda. No entanto, nessa temporada de moda outono-inverno, o tema estava presente em várias coleções apresentadas na São Paulo Fashion Week, cujo tema foi justamente a sustentabilidade.

 

A Osklen, por exemplo, trouxe tecidos ecológicos para sua passarela, como a lã orgânica, o feltro de lã reciclada e a seda ecológica. E muitas dessas peças chegam às lojas no início do mês que vem, como a blusa de tricô masculino de palha de seda e do vestido, da bolsa e da bota feitas com o feltro.

 

Já a Iódice usou produtos sustentáveis da Amazônia em suas peças, como as sementes que viraram bijuterias desenvolvidas pela designer Francesca Romana Diana. Mas o tema sustentabilidade extrapolou os modelos desta estação. A equipe de estilo da marca vai à reserva de Mamirauá para capacitar artesãos locais e mostrar como melhor aproveitar esses materiais. A ideia é tornar esses profissionais capazes de enfrentar um mercado externo e fornecer produtos para grandes nomes da moda internacional.

 

Outras marcas nacionais aderiram à reciclagem de materiais. A estilista Isabela Capeto há várias coleções reutiliza tecidos antigos, seja para fazer uma peça ou alguns acabamentos. O mesmo faz Mario Queiroz, que estampa sobre tecidos antigos, dando um ar totalmente novo a algumas de suas criações. Nesta coleção ele também trabalhou com algodão orgânico nas suas camisetas. “Também sugiro ao consumidor utilizar peças de coleções antigas, de brechós ou mesmo de outras marcas. Na moda tudo se recicla, e o estilo permanece”, filosofa Queiroz. Fause Haten reaproveitou tecidos de seu estoque.

 

Mais ousada e criativa, a Cavalera se inspirou na reforma de seu showroom e reutilizou o que normalmente não faz parte do seu acervo. Ao ver a resistência dos materiais expostos ao sol e à chuva, os estilistas desenvolveram carteiras e bolsas que aliam formas tradicionais a uma matéria-prima inovadora: o saco de cimento.

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Pele de coelho

A polêmica da temporada, no entanto, ficou por conta dos casacos ou looks de peles. Sejam verdadeiras ou sintéticas, elas reinaram nos desfiles da SPFW. Neon, Isabela Capeto, Alexandre Herchcovitch, Cori, Maria Garcia e Huis Clos optaram pela versão sintética. A Colcci ampliou o debate ao usar pele de coelho certificada. Isso significa que os animais são de espécies que não estão em extinção e são criados justamente para o abate.

 

Já no Rio, a moda verde e ética parece estar mais perto do consumidor. A cidade abriga, por exemplo, a ONG Moda Fusion, que desde 2005 traz estilistas de renomadas escolas de moda francesa para ensinar design às costureiras de cooperativas locais. O resultado são peças fashion usando as técnicas que elas já dominam e que fazem sucesso na Europa.

 

Muitos acreditam que o Brasil tem tudo para ser a cara do mercado eco-fashion no mundo e que essa pode ser uma plataforma de exportação a ser apoiada pelo governo. Afinal, o mercado externo já valoriza o trabalho artesanal brasileiro, que ganhará mais prestígio se tiver um toque fashion, uma preocupação ambiental e ajudar o desenvolvimento local de populações carentes.

 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Em setembro do ano passado, o Dona Fusion – um projeto da Moda Fusion em parceria com a loja Dona Flor – participou do salão Maison Objet, em Paris, com cangas decorativas no tecido de PET reciclado em 40 estampas diferentes assinadas por designers brasileiros e franceses. Produzidas por presidiárias de São Paulo do programa Daspre, as peças ganharam exposição na renomada loja de departamento Bon Marché e chegaram às araras das butiques parisienses Merci, L’ Eclaireur e Colette e de lojas de Saint Tropez e da Córsega.

 

Outra prova de que estilo e moda verde andam juntos é a stylist e apresentadora do programa Tamanho Único (do canal GNT) Chiara Gadaleta Klajmic. Além de ter o blog Ser Sustentável com Estilo, ela organizou no ano passado quatro edições do Bazar Sustentável, que a partir deste ano será realizado também no Rio e em Porto Alegre. Nele, Chiara vende acessórios da sua marca de Tarantula, feita com resíduos têxteis, e garimpa peças de outras iniciativas verdes.

 

Chiara também está lançando um loja virtual de artigos com preocupação sócio-ambiental. O nome – Identidade 55, em referência ao nosso código telefônico – não podia ser mais atual e global, provando que o Brasil tem mesmo de apostar na eco-fashion.

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