Nível dos oceanos aumentará 1,5 m até 2100, dizem cientistas

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Por KARIN STROHECKER
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O derretimento de geleiras, o desaparecimento de placas de gelo e o aquecimento das águas poderiam fazer com que o nível dos oceanos subisse até 1,5 metro até o final deste século, expulsando de suas casas dezenas de milhões de pessoas, afirmou uma nova pesquisa divulgada na terça-feira. Apresentado em uma conferência da União Européia de Geociências, a pesquisa prevê uma elevação do nível dos oceanos três vezes maior do que o estipulado pelo Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) no ano passado. O painel sobre o clima, uma entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), dividiu o Prêmio Nobel da Paz de 2007 com o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore. Svetlana Jevrejeva, do Laboratório Oceanográfico Proudman, na Grã-Bretanha, disse que a estimativa baseava-se em um novo modelo matemático que permitiu estabelecer com precisão o nível dos oceanos nos últimos 2.000 anos. "Durante os últimos 2.000 anos, o nível dos oceanos manteve-se praticamente estável", afirmou a cientista a jornalistas, em meio ao encontro realizado em Viena. No entanto, o ritmo no qual o nível dos oceanos sobe hoje está ganhando velocidade, e as águas ficarão de 0,8 a 1,5 metro acima de seu patamar atual quando chegar o próximo século, afirmaram pesquisadores, entre os quais Jevrejeva, em um comunicado. O nível dos oceanos elevou-se 2 centímetros no século 18,6 centímetros no século 19 e 19 centímetros no século passado, disse a cientista, acrescentando: "parece que o rápido aumento do nível dos oceanos no século 20 deveu-se ao derretimento de placas de gelo." Os pesquisadores debatem acaloradamente a respeito do quanto o nível dos mares vai elevar-se. O IPCC, por exemplo, diz que tal elevação deve ficar entre 18 e 59 centímetros. "Os números do IPCC subestimam a realidade", afirmou Simon Holgate, membro também do Laboratório Proudman. Segundo os pesquisadores, o IPCC não havia levado em conta a dinâmica do gelo -- a velocidade maior na movimentação das placas de gelo, velocidade essa alimentada pelo derretimento, é ela também um fator no desaparecimento das placas e na elevação do nível das águas. Esse efeito, segundo Steve Nerem, da Universidade do Colorado (EUA), deve gerar um terço do futuro aumento do nível dos oceanos. "Há vários indícios de que vamos ver uma elevação de 1 metro em 2100", afirmou o cientista, acrescentando que esse fenômeno não ocorreria de maneira uniforme no planeta e que mais pesquisas seriam necessárias para determinar os efeitos dele em cada região. Os cientistas podem estar em desacordo a respeito da magnitude da elevação, mas estão afinados quando se trata de prever quais serão as áreas mais atingidas -- os países em desenvolvimento na África e na Ásia, que não possuem os recursos necessários para construir proteções contra as águas. Entre esses estão nações como Bangladesh, cujo território situa-se quase totalmente a uma altura de no máximo 1 metro do atual nível do mar. "Se o nível dos oceanos elevar-se 1 metro, 72 milhões de chineses vão perder suas casas, junto com 10 por cento da população vietnamita", afirmou Jevrejeva.

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