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Neve some e turismo teme prejuízos

Nas charmosas estações de esqui dos Alpes, a crise que preocupa não é a financeira. É a da falta de neve. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que uma elevação de 1,5 grau na temperatura do planeta – algo que cientistas preveem para este século – eliminará cem dias anuais de neve nos Alpes, que se espalham pela Suíça, Itália, França e Áustria. Na Suíça, a projeção é de que, das 230 estações de esqui em operação hoje, menos da metade sobreviva no período de 2030 a 2050.

Por Jamil Chade
Atualização:

 

O turismo leva por ano aos Alpes de 60 milhões a 80 milhões de pessoas e muitas cidades vivem exclusivamente da renda do setor. Estudos da Universidade de Zurique apontam que só a Suíça poderia perder cerca de US$ 1,6 bilhão por ano se esquiadores deixassem de visitar as montanhas.

 

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Bancos já começaram a rejeitar empréstimos a estações de esqui mais vulneráveis, que ficam em pontos baixos das montanhas. “Eles não têm dado crédito a estações suíças que estejam abaixo de 1.500 metros de altitude”, afirma Shardul Agrawala, autor do estudo da OCDE.

 

A Agência Nacional de Turismo já está repensando a forma de promover a Suíça no mundo. O problema, segunda a porta-voz da agência, Daniela Bär, é que muitas estações não têm alternativas a oferecer.

 

Num relatório lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no início do ano, especialistas afirmaram que a mudança do clima do planeta ameaça os esportes de inverno. O World Resources Institute vai ainda mais longe em suas previsões e alerta que a própria realização dos Jogos Olímpicos de Inverno pode estar sob risco nos próximos 50 anos. Nos últimos jogos, realizados em Turim, na Itália, em 2006, a falta de neve assustou os organizadores e, principalmente, os patrocinadores. No ano seguinte, o fenômeno provocou o cancelamento de etapas do campeonato mundial de esqui nos Alpes.

 

O impacto do aquecimento global sobre esportes de inverno também é motivo de preocupação no Canadá e nos Estados Unidos. Um estudo da Universidade de Washington alerta que a temporada de esqui no país pode ser reduzida de três para dois meses nos próximos 40 anos. A produção de neve artificial teria de crescer 187% para contornar o problema.

 

No Canadá, a entidade Global Exchange lançou uma campanha para convencer os governos a lutarem contra o aquecimento do planeta usando o hóquei no gelo como bandeira. “Em toda a América do Norte vemos que as crianças têm cada vez menos possibilidade de praticar o hóquei nos lagos congelados de suas cidades. Está na hora de os governos tomarem uma atitude antes que o aquecimento global arruíne nosso esporte nacional”, afirmou Mike Hudema, responsável pela campanha.

 

Diante de tantos riscos, entidades esportivas e mesmo governos começam a tomar medidas. Em alguns pontos da Suíça, grandes cobertores são usados para cobrir a neve e impedir o degelo. O governo tem subsidiado reformas, como a redução do grau de inclinação das pistas, para preservar a neve. Mas especialistas alertam que isso não será suficiente.

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