Na COP-20, CNI defende diversificação da matriz energética brasileira

Confederação Nacional da Indústria alertou para fato de que potencial de geração hidrelétrica está sujeito a restrições ambientais

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

LIMA - A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu nesta quarta-feira, 10, em Lima, a postura mais favorável do governo à diversificação da matriz energética brasileira. A entidade alertou para o fato de a maior parte do potencial futuro de geração hidrelétrica, atualmente de 126 mil MW, estar sujeito a restrições ambientais. Para a entidade, a aversão aos grandes reservatórios nas novas usinas construídas, que também funcionam como estoque de energia, pode tornar inviável a inclusão mais ambiciosa das fontes renováveis na matriz.

A CNI aproveitou sua presença na 20ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP-20) para divulgar o documento "Ambiente Energético Global e suas Implicações". O texto traz uma ampla análise sobre a matriz brasileira e, levando em conta a tendência de aquecimento global e de um possível acordo multilateral para contê-lo, apresenta recomendações ao governo. O Palácio do Planalto recebeu o texto antecipadamente, em novembro.

Obras de esvavação e assentamento do leito dos canais da usina de Belo Monte Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃO-10/6/2014

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"A CNI está aberta à discussão e defende um mix na matriz energética com maior presença da geração alternativa. Essas fontes, porém, tem de ser complementares porque não geram energia continuamente", afirmou Shelley Carneiro, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI. "Precisamos garantir o acesso a energia a preços compatíveis e com segurança, sem risco de apagões", completou.

A entidade empresarial sugere ao governo realizar estudos sobre os impactos das mudanças climáticas sobre o padrão de vazão de rios, em especial os que abastecem os reservatórios de hidrelétricas, e na produção de cana-de-açúcar, da qual se originam o etanol combustível e uma pequena parte de geração elétrica do País. A política de biocombustíveis, defende a CNI, deve ser fortalecida, a partir da definição de preços "mais realistas" para a gasolina, a remoção de entraves para a cogeração de energia do bagaço de cana e o esclarecimento de que o etanol brasileiro não traz os prejuízos à produção de alimentos.

As hidrelétricas brasileiras, historicamente, têm garantido a inserção de outras fontes de energia renovável, como a eólica, a solar e a biomassa. Seus reservatórios amplos servem para "estocar" a energia. Basta fechar as comportas para poupar geração elétrica. As novas hidrelétricas com reservatórios pequenos, a fio d´água, como as do Rio Madeira e a de Belo Monte (PA), não têm essa capacidade de armazenar energia. 

Essas construções a fio d´água criam obstáculos para a adoção das demais fontes renováveis, segundo o estudo. Para colocar as fontes de energia eólica e solar em funcionamento, o País precisa ter garantido outro meio de conseguir a eletricidade necessária. Se não for a energia de hidrelétricas, considerada limpa, terá de ser a de usinas térmicas, grandes emissoras de gases do efeito estufa.

A questão foi mencionada pelo presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho Neto, durante evento paralelo à COP-20. "Há dez anos, com grandes reservatórios, conseguíamos estocar energia até um ano antes de ser consumida. As novas hidrelétricas diminuíram o armazenamento", explicou. "Como consequência, aumentamos a geração em usinas térmicas para garantir nossa segurança energética", completou.

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Segundo o estudo, a redução de custos dos paineis fotovoltaicos, usados na geração solar, e do aparato dos geradores eólicos foi positiva. Mas a CNI recomenda ao governo realizar um plano combinando reservatórios de água, baterias e novas técnicas de previsão de ventos para permitir a ampliação do uso das fontes renováveis. O potencial de geração de energia eólica, segundo o estudo, é de cerca de 350 mil MW, mais do que o dobro do restante em hidreletricidade.

Gás natural e não-convencional, como o de xisto, também entram no cálculo da CNI, apesar de seu potencial de emissão de gás carbônico (CO2). O Brasil tem 6,9 trilhões de metros cúbicos de gás não-convencional, segundo a Agência Internacional de Energia. Essas reservas não são ainda exploradas, nem há estudos aprofundados sobre a competitividade desse recurso no País. Nos Estados Unidos, o gás de xisto provocou uma espécie de revolução, ao baratear o custo da energia e permitir a retomada de setores prejudicados pela crise de 2008. 

No caso do gás natural, o estudo ressalta ter o Brasil reservas de mais de 12 trilhões de metros cúbicos. O preço médio dessa fonte de energia para a indústria nacional, porém, é 20% maior do que na Europa e quatro vezes superior ao dos EUA. O principal obstáculo ao aumento de competitividade do setor, segundo a CNI, está na existência de monopólio em toda a sua cadeia de valor. A entidade sugere ao governo derrubá-lo, de forma a promover a competição e o aporte de capitais privados, e permitir o livre acesso aos gasodutos. 

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