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Na Antártida, cientistas montam o quebra-cabeça da atmosfera

Pesquisadora brasileira tenta compreender camada protetora da Terra por meio de ecos recebidos em um rádio

Por Carlos Orsi
Atualização:

Em um módulo próximo à Estação Antártica Comandante Ferraz, a base brasileira na Antártida, a pesquisadora Emília Correia recebe o eco de sinais de rádio refletidos pela ionosfera, a camada mais elevada da atmosfera terrestre, indo dos 70 km de altitude até quase 300 km. A Estação Espacial Internacional, em comparação, orbita a Terra a 340 km.

 

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No lado oposto de Ferraz, em um módulo bem menor, Luciano Marani cuida da leitura das condições da camada de ozônio. Localizada bem abaixo da ionosfera - ocupando uma faixa de altitude que vai de cerca de 20 km a cerca de 40 km - essa camada é o escudo da vida terrestre contra os efeitos danosos dos raios ultravioleta do Sol. Há décadas que anualmente abre-se nela um buraco, centrado sobre a Antártida.

 

Além de serem ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) - no caso do programa de Emília, em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie - os dois projetos têm em comum o fato de dependerem, para compreender o que ocorre na atmosfera terrestre, da atividade do Sol.

 

Os sensores com que Luciano trabalha, por exemplo, não medem diretamente o ozônio da atmosfera, mas sim os raios ultravioleta que chegam ao solo antártico.

 

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Um aparelho que gira lentamente para acompanhar o caminho do Sol no céu capta dos raios vindos de cima, ao mesmo tempo em que mede a radiação refletida pela neve. A detecção desses raios também permite deduzir as concentrações de dois gases, o dióxido de nitrogênio, que é um dos causadores do efeito estufa, e o dióxido de enxofre, um poluente associado à chuva ácida.

 

"O Sol é o principal controlador da ionosfera", diz Emília, explicando a ligação de seu trabalho com a atividade do astro. Para medir as condições nessa faixa atmosférica, o módulo antártico capta sinais de rádio da Marinha dos Estados Unidos, refletidos pela parte inferior da camada, e conta com uma ionossonda que reflete um sinal a cada três segundos do extremo superior.

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O estudo da ionosfera é importante não só porque essa faixa da atmosfera influencia as telecomunicações e oferece informações sobre o comportamento do Sol, mas também porque as interações entre a ionosfera e as camadas inferiores da atmosfera ainda não são bem compreendidas. Existe a possibilidade, por exemplo, de o buraco na camada de ozônio sofrer efeitos da atividade solar, transmitidos pela ionosfera.

 

"Talvez a atividade humana não seja a única coisa a afetar o ozônio", diz a pesquisadora. "Podem existir ciclos na natureza que ainda não conseguimos de observar por tempo suficiente".

 

Do outro lado de Ferraz, Luciano lembra que seus sensores de ultravioleta, que indiretamente medem as concentrações de ozônio na atmosfera, também podem servir como indicadores de atividade solar, gerando dados que poderão complementar os de Emília - da mesma forma que a pesquisa dela pode ajudar a entender melhor a dinâmica do ozônio. "Um dos objetivos do Ano Polar Internacional é integrar isso tudo", diz ele, referindo-se ao intenso período de pesquisas realizadas em todo o mundo sobre o Ártico e a Antártida em 2007 e 2008, e cujos resultados continuam a ser analisados.

 

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