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Múltiplas ações na vegetação paulista

Pesquisas no cerrado e na mata atlântica indicam possíveis fármacos

Por Giovana Girardi
Atualização:

Em plantas da mata atlântica e do cerrado podem estar um novo tratamento para úlcera, um ansiolítico e dois cosméticos antienvelhecimento mais eficazes que os disponíveis no mercado, além de compostos com ações inovadoras contra mal de Alzheimer e tumores. Essa é a expectativa de pesquisadores do Núcleo de Bioensaios, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais (Nubbe), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que há oito anos investigam o potencial da biodiversidade do Estado de São Paulo. Veja também: Especial completo sobre biodiversidade Biodiversidade, essa desconhecida Droga contra câncer em teste Estudos focam doenças tropicais Para vasculhar a Amazônia, quanto mais coleta, melhor Peixe venenoso pode render antiasmático para grávidas O duro caminho até a indústria Remédios que vêm das toxinas Reinventar relações respeitosas Proposta de nova lei segue sem acordo Natureza inspiradora Inicialmente, a equipe até buscou informações junto a populações tradicionais, mas acabou adotando uma investigação mais aleatória. "O uso popular às vezes indica 20, 30 utilizações diferentes para cada planta. É preciso filtrar tudo isso", explica o pesquisador do Nubbe Alberto Cavalheiro. Segundo ele, de 50 plantas coletadas nos dois biomas, pelo menos sete têm potencial para o desenvolvimento de novos fármacos. Após identificar as moléculas responsáveis pelas ações citadas acima, os cientistas, em colaboração com a indústria farmacêutica e cosmética, tentam, agora, eliminar eventuais propriedades tóxicas e ampliar as boas características. Entre os parceiros estão empresas como Eurofarma, Aché e Natura. Mas, como é praxe em contrato com empresas, Cavalheiro conta o milagre, mas não entrega o santo, ou melhor, as espécies responsáveis por tais efeitos. BUSCA RACIONAL Apesar dos resultados animadores, Cavalheiro alerta para a necessidade de uma busca mais racional, voltada para a sustentabilidade. "Acho que estamos vivendo dentro de uma visão mercantilista, de achar substâncias bioativas que possam trazer idéias de novos fármacos para o mercado, sem prestar atenção no entorno", critica. "Mas o estudo da biodiversidade e o eventual desenvolvimento de novas drogas está associado ao entendimento da natureza e esse conhecimento deve servir para ajudar na conservação dessa mesma biodiversidade", afirma o pesquisador, ao lembrar que parte desse material já foi perdida na abertura de espaço para a agropecuária. "Muito já virou soja, boi, cana. Mas ainda temos 18 mil quilômetros quadrados de mata atlântica no Estado. A pesquisa trará dados para a conservação." E complementa: "O papel da universidade não é fazer produto, isso é uma conseqüência, com a qual ainda estamos aprendendo a lidar", diz Cavalheiro.

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