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Mudar matriz de energia é desafio para reduzir emissões

Tecnologia de energias limpas deu salto, mas dependência de fontes poluidoras cresceu.

Por Pablo Uchoa
Atualização:

Mudar o padrão de consumo e a matriz energética estão entre os maiores desafios que o mundo terá de enfrentar se quiser reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa e colaboram para o aquecimento global. Atualmente, ao mesmo tempo que a produção de energias limpas deu um salto tecnológico o mundo passou a depender como nunca de fontes energéticas que lançam gases que provocam o efeito estufa na atmosfera. Estudos citados neste ano pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) da ONU afirmam que os investimentos mundiais em energias renováveis nunca foram tão altos - chegaram a US$ 38 bilhões em 2005. Ainda assim, mostram os mesmos estudos, as emissões de gases do setor energético nunca foram tão volumosas. Juntas, as emissões de gases que causam o efeito estufa equivalem a 49 bilhões de toneladas de CO2 lançadas anualmente na atmosfera. Destas, 26 bilhões de toneladas estão relacionadas à produção de energia, que inclui o fornecimento e o aquecimento de casas e empresas e o setor de transporte. Se mantidas as atuais políticas energéticas, estas emissões poderiam atingir o equivalente a 40 bilhões de toneladas até 2030, segundo os cálculos apresentados pelo IPCC. A dificuldade de mudar esta tendência se deve ao fato de que, atualmente, cerca de 80% da energia mundial é fornecida por fontes fósseis, como o petróleo (33%), o carvão (25%) e o gás (21%). No caso da produção de energia elétrica, também há grande dependência de fontes fósseis. Segundo dados de 2004, os recursos energéticos mundiais combinados geraram cerca de 17,4 mil gigawatts hora (GWh) de eletricidade. O carvão respondeu por 40% desta energia elétrica, seguido pelo gás (20%). Para piorar a situação, as duas fontes consideradas limpas que mais contribuem para a produção de eletricidade - a energia nuclear e a hidrelétrica - têm sido cada vez mais questionadas por cientistas e ambientalistas como alternativa realmente ideal. A nuclear, que responde por 16% da geração de eletricidade, traz embutidos riscos de contaminação por lixo atômico e de proliferação armamentista mundial. A energia hidrelétrica, que também responde por 16% da produção de eletricidade, é considerada limpa e sustentável. No Brasil, responde por mais de 80% do consumo do país. Entretanto, a construção de grandes usinas causa sérios impactos sobre o meio ambiente e a ocupação do solo onde são instaladas. Na opinião de especialistas, é preciso estudar todas as alternativas e não há uma resposta simples sobre como mudar a matriz energética mundial. Um exemplo é a questão nuclear. Para Richard Schock, diretor de Estudos do Conselho Mundial de Energia (WEC, sigla em inglês), essa é uma alternativa que não pode ser ignorada. "A energia nuclear terá de estar de estar disponível em todo o mundo. Em alguns lugares de alta densidade, como por exemplo o Japão, onde não existem muitas áreas para produção de energia, é de se esperar que a proporção aumente nos próximos 50 anos", diz ele, que é co-autor de um capítulo sobre o tema no relatório do IPCC. O principal desafio é desenvolver outros tipos renováveis de energia, como eólica (dos ventos), solar, de biomassa e da terra (geotérmica), que respondem por apenas 2% da matriz energética mundial. Um levantamento da Rede para Políticas de Energias Renováveis, citado pelo IPCC, mostra que em 2005, os investimentos em energias renováveis alcançaram US$ 38 bilhões, por iniciativa principalmente de Alemanha, China, Estados Unidos, Japão e Índia. Alemanha, Espanha e Estados Unidos, por exemplo, já têm capacidades instaladas de energia eólica que alcançam respectivamente 18,4 GW, 10 GW e 9,1 GW, segundo o Conselho Mundial de Energia (WEC). Para efeito de comparação, a usina de Itaipu tem uma capacidade de 12,6 GW. Recentemente a Índia (4,4 GW) superou a Dinamarca (3,1 GW) e é um dos países que mais desenvolvem este tipo de tecnologia energética, junto com a China (que hoje tem 1,3 GW e pretende ampliar para 30 GW em 2030). Já a energia solar deve chegar a uma capacidade instalada de 5 GW até 2010, nos cálculos do WEC. Esta alternativa é vista como especialmente atraente para países emergentes que se beneficiam de luz solar abundante. Tanto a Índia como a China instalaram grandes programas de células fotovoltaicas para captar a luz solar e transformar em energia. O Brasil também é visto como um país com grandes vantagens, por seu programa de etanol à base de cana-de-açúcar e do potencial ainda existente para explorar hidreletricidade a partir de pequenas usinas. Mas o próprio WEC condiciona o desenvolvimento de fontes de energia não-fósseis à redução dos custos de produção, e especialistas consideram que o incentivo passa pelo bolso. A Agência de Energia Internacional estima que os investimentos para atingir a demanda por energia até 2030 vão beirar os US$ 20 trilhões, e por isso analistas dizem que a melhor política para incentivar energias limpas é torná-las economicamente atrativas. Ao se referir às propostas de taxação das emissões de carbono, o IPCC afirmou que um preço de US$ 20 a US$ 50 por tonelada de CO2 seria capaz de transformar o setor energético e elevar a participação das fontes renováveis na matriz energética para 35% até 2030, quase o dobro do quinhão atual. "Não temos políticas de energias suficientes nem cooperação internacional suficiente entre governos, empresas nem governos e empresas para fazer o que hoje já é possível tecnicamente. Precisamos que investidores e profissionais das finanças invistam em políticas", afirma o dr. Schock. "Mas precisamos de políticas consistentes, precisamos tomar cuidado para que investir em energias renováveis não se torne menos atraente em cinco ou dez anos. Investidores só colocarão seu dinheiro em políticas que eles acreditarem que sobreviverão." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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