Mudanças climáticas e queda na biodiversidade devem ser combatidas juntas, apontam pesquisadores

Se não forem combatidas ao mesmo tempo por políticas públicas coordenadas, nenhuma das duas pode ser, de fato, resolvida e ter seus efeitos negativos na vida humana mitigados

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Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

É como um ciclo vicioso. Impulsionadas pela ação humana, a redução da biodiversidade e as mudanças climáticas se reforçam e agravam os efeitos uma da outra. Se não forem combatidas ao mesmo tempo por políticas públicas coordenadas, nenhuma das duas pode ser, de fato, resolvida e ter seus efeitos negativos na vida humana mitigados, aponta um relatório realizado por um painel de 50 especialistas de todo o mundo.

A redução a biodiversidade e as alterações do clima impactamnegativamente o bem-estar humano e a qualidade de vida Foto: Luciano Candisani / Divulgação

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Lançado nesta quinta-feira, 10, o estudo resulta da colaboração entre o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] e a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). 

Tanto a redução a biodiversidade quanto as alterações do clima têm impactos negativos sobre o bem-estar humano e qualidade de vida. 

A maior concentração de gases do efeito estufa, por exemplo, leva ao aumento das temperaturas, mudanças nos regimes de chuva, aumento da frequência de eventos climáticos extremos e esgotamento de oxigênio e acidificação de ambientes aquáticos, muitos dos quais afetam negativamente a biodiversidade. As mudanças na biodiversidade, por sua vez, afetam o sistema climático, especialmente por meio seus impactos nos ciclos do nitrogênio, carbono e água. 

Essas interações podem gerar feedbacks complexos entre o clima, a biodiversidade e os seres humanos que podem produzir resultados mais pronunciados e menos previsíveis.

Ao todo, o estudo lista 41 ações e situações que precisam ser combatidas.

O aumento do consumo de energia, a superexploração de recursos naturais e a transformação sem precedentes do meio ambiente terrestre e marinho nos últimos 150 anos ocorreram paralelamente aos avanços tecnológicos que proporcionaram meios para a melhora do padrão de vida para muitos. 

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Ao mesmo tempo, isso levou a mudanças no clima e à aceleração no declínio da diversidade biológica em todo o mundo. Resultado: a mesma qualidade de vida impulsionada positivamente por esse processo sofre os efeitos negativos das suas consequências também em escala nunca antes vista.

Embora a vida na Terra dependa de um frágil equilíbrio entre o clima e a biodiversidade, a ação humana (e suas consequências) é responsável pela alteração de nada menos do que 77% da área dos ambientes terrestres e 87% do marinho. Essa interferência está relacionada à perda de 83% da biomassa de mamíferos e metade disso das plantas. Seres humanos e gado representam hoje cerca de 96% de toda a biomassa animal no planeta e o número de espécies ameaçadas de extinção é o maior da história. Os pesquisadores defendem que um novo paradigma de conservação deve abordar simultaneamente os objetivos de manter um clima habitável, a biodiversidade autossustentável e a boa qualidade de vida para todos.

O porcentual de áreas efetivamente protegidas, em terra e no oceano, necessário para cumprir esses três objetivos ainda não está bem estabelecido pela ciência. No entanto, de acordo com os pesquisadores, precisa ser maior do que o total protegido atualmente, com estimativas globais que variam de 30% a 50%.

A pesquisa aponta também que o excesso de áreas irrigadas para a agricultura e monoculturas podem resultar em problemas maiores ao não considerarem os efeitos sobre a biodiversidade. 

No passado, aponta o estudo, políticas públicas que abordaram de forma independente a mudança climática e a perda de biodiversidade não foram capazes de frear o avanço desses problemas. Tratar as duas de forma integrada pode ser a melhor forma de alcançar esses objetivos.

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