PUBLICIDADE

Morte de rinoceronte na França lança alerta para segurança de zoológicos

Grupo entrou no parque de Thoiry à noite e atirou contra o mamífero para cortar seu chifre; foi o primeiro caso em um parque animal europeu

Por Gilles Lapouge
Atualização:
Cobiçado. Quilo do chifre chega a valer mais do que o ouro Foto: DOMAINE DE THOIRY/ THE NEW YORK TIMES

Forçando as grades externas, eles entraram à noite em um dos mais belos parques animais da França, o Zoológico de Thoiry. Em seguida, estouraram a fechadura do pátio dos rinocerontes brancos e a do galpão onde os animais dormiam. Não se sabe quantos eram, mas sem dúvida se tratava de profissionais: ninguém viu nada, apesar das câmeras de segurança e dos cinco funcionários que passam a noite no zoo.

PUBLICIDADE

Então, meteram três balas na cabeça de Vince, um rinoceronte branco de 4 anos. Com uma motosserra, cortaram o chifre maior do animal, que media 20 centímetros, tentando, sem sucesso, serrar o chifre menor. Somente horas mais tarde a tratadora descobriria a carnificina. Tanta infâmia dá engulhos, mas também lança um alerta: zoológicos do mundo inteiro se tornaram alvo de bandidos.  A razão é conhecida. O chifre de rinoceronte - como o marfim de elefante e os ossos de tigre - é objeto de um tráfico vergonhoso.

Hoje, o quilo de chifre vale entre € 40 mil e € 60 mil (R$ 135 mil e R$ 200 mil), mais que platina (R$ 145 mil) ou ouro (R$ 128 mil).  Os compradores são geralmente asiáticos, ávidos pelas supostas propriedades afrodisíacas, quase mágicas, do material. Além disso, o chifre também vale muito quando transformado em escultura. Em qualquer das formas, indica riqueza, poder e status. 

É a primeira vez que um ataque desse tipo acontece em um zoo europeu. Os parques animais do continente entraram em alerta. A Sociedade Zoológica de Londres pôs em atenção seus zoos e parques associados (há 111 rinocerontes na Grã-Bretanha). Nem rinocerontes empalhados de museus escapam da sanha dos traficantes. 

No fim do século passado, os rinocerontes estiveram próximos da extinção. Em 1990, havia apenas 50 vivendo em condições naturais. Depois, houve uma boa recuperação e, em 2011, eram 20 mil. Em seguida, porém, começou novo declínio. Hoje, calcula-se que mil rinocerontes selvagens sejam mortos por ano na África do Sul por traficantes, mesmo tendo o país aumentado consideravelmente o número de patrulheiros e reforçado as punições aos responsáveis. 

Na França, o comércio de chifres de rinoceronte e presas de elefante é severamente reprimido, pelo menos o de material novo. Mas o tráfico de chifres antigos já esculpidos é livre, pois são considerados obra de arte. Em consequência, os bandidos matam um rinoceronte, cortam seu chifre, envelhecem quimicamente e disfarçam como escultura. 

Legislação. Em agosto de 2016, foi adotada uma nova lei francesa para a biodiversidade. Ela prevê penas de até sete anos de prisão e € 750 mil (R$ 2,5 milhões) de multa para o tráfico ilícito de animais selvagens por quadrilhas organizadas. É possível que os matadores do zoológico de Thoiry, se apanhados, inaugurem a nova legislação. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

Publicidade

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.