Sob protesto e comoção dos moradores, o Metrô de São Paulo iniciou na tarde de segunda-feira, 21, a derrubada de 145 árvores no Complexo Rapadura, um parque de 63 mil metros quadrados às margens do Córrego Rapadura, que deságua no Rio Aricanduva, na zona leste de São Paulo. O local vai abrigar obras de um pátio subterrâneo de trens. Também por ali o "tatuzão" iniciará as escavações dos túneis da extensão da Linha-2 Verde (Vila Madalena-Vila Prudente).
A derrubada das árvores ocorreu após uma disputa judicial entre moradores do Jardim Têxtil, na região da Vila Formosa, e o Metrô. Quando as árvores caíram, pessoas que moram na vizinhança choraram. "Muitas das árvores que estão sendo derrubadas foram os moradores que plantaram há décadas, o que atraiu pássaros de diversas espécies para cá e melhorou a qualidade de vida de todo mundo", diz a professora Marta Cavalcanti, que mora em frente à Praça Mauro Broco, um dos pontos atingidos.
Na praça também há o registro, por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), de um sítio arqueológico.
Em agosto de 2020, a população foi informada, por meio de uma carta deixada nas caixas de correio, de que, dali a dois dias, 355 árvores do complexo seriam suprimidas para a instalação do canteiro de obras.
Uma ação civil pública e diversas batalhas judiciais adiaram, até a segunda-feira, 21, o abate da vegetação. Os moradores argumentam que na Avenida Guilherme Giorgi, a cerca de 200 metros do local, uma área de 400 mil metros quadrados, com pouca vegetação, poderia abrigar o canteiro de obras sem prejuízo para a área verde da região. Em parte desse terreno será construída a estação Vila Isabel da Linha Verde.
Em nota, o Metrô disse ter mantido “diálogo constante com a comunidade e adotou todas medidas possíveis para minimizar os impactos da obra, inclusive reduzindo de 355 para 145 a quantidade de árvores que serão retiradas da Praça Mauro Broco”. “Toda a supressão das árvores será feita até hoje (terça-feira) e a compensação será feita com o plantio de outras cinco mil novas árvores, além da revitalização do local, que será devolvido à população ao término da obra.”
Os moradores se queixam de que essa compensação ambiental será feita em outra região.
O órgão disse ainda que as atividades na região “foram aprovadas por todos órgãos competentes e também pela Justiça, contando com todas as licenças necessárias”. “A ampliação da Linha 2-Verde vai atender diretamente a mais de 320 mil pessoas por dia, além trazer diversas melhorias e benefícios à toda população, inclusive evitando a emissão de milhares de toneladas de CO2.”
Parque existe desde 2008, com papel na contenção de alagamentos
Localizado numa região da cidade carente de áreas verdes, o parque existe desde 2008 e tem papel importante na contenção de alagamentos. A flora local conta com exemplares de aroeira-salsa, figueira-benjamim, ipê-de-el-salvador, jacarandá-mimoso, jerivá, pau-ferro, romãzeira e sibipiruna.
Segundo a Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura, um inventário da flora realizado em 2020 constatou "108 espécies vasculares, das quais estão ameaçadas de extinção cedro, pau-brasil e pinheiro-do-paraná". A fauna é "composta composta majoritariamente de aves, como o periquito-rico, maracanã-pequena, periquitão-maracanã, anu-branco, anu-preto, joão-de-barro, ferreirinho-relógio, guaracava-de-barriga-amarela, sabiá-laranjeira, sanhaço-do-coqueiro e cambacica".