Marinha admite risco de vazar óleo de embarcação

Acidente na Antártida foi mantido em sigilo desde dezembro pelo governo brasileiro; o navio está a 40 metros de profundidade

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Por Sergio Torres
Atualização:

RIO - O planejamento da Marinha e da Petrobrás para recuperar a chata (embarcação usada para transporte de carga) com 10 mil litros de óleo combustível que naufragou em dezembro na costa da Antártida prevê a possibilidade de o poluente vazar, o que afetaria espécies animais e colocaria o Brasil na condição de infrator de um tratado de conservação ambiental do continente.

 

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Como o Estado revelou no sábado, uma chata rebocada pela Marinha para a Estação Antártica Comandante Ferraz - a mesma base científica e militar brasileira na Ilha Rei George que ficou destruída após um incêndio na madrugada de ontem - foi a pique na Baía do Almirantado, a 900 metros da praia. Ela levava um carregamento de gasoil artic, combustível anticongelante feito pela Petrobrás para operar geradores em temperaturas muito baixas.

 

Até o incêndio de sábado, viviam no local 30 cientistas brasileiros (como biólogos, biofísicos, geólogos), 15 militares - dois deles morreram no incêndio - e 15 funcionários civis que cuidavam da manutenção. Vistoria realizada por robô submarino no casco da embarcação, pousada no leito oceânico a 40 metros de profundidade, constatou que não houve rompimentos estruturais nem vazamentos do óleo acondicionado em um compartimento duplamente revestido da chata. Mas a chance de uma ruptura durante o processo de recuperação do flutuante e do carregamento é considerada pelos especialistas que organizam o plano de resgate. Os 10 mil litros do combustível equivalem a cerca de 62 barris de petróleo.

 

Em nota divulgada na sexta-feira, o Centro de Comunicação Social da Marinha admite a hipótese de o óleo vir a vazar durante o içamento por boias e um guindaste. "Durante a reflutuação serão empregados todos os recursos necessários para a contenção de poluição ambiental no caso de vazamento do óleo contido na chata", informa o comunicado, que não revela quais procedimentos serão adotados para evitar que o combustível se espalhe pelo mar e atinja a costa.

 

Preocupação. No caso de a população animal e o ecossistema antártico virem a ser contaminados pelo poluente nacional, o Brasil terá de se explicar aos países que firmaram com ele, em 1998, o Protocolo de Madri, tratado de preservação ambiental da Antártida. Essa preocupação é manifestada pela Marinha na nota de sexta-feira.

 

"A responsabilidade do Brasil em honrar os compromissos definidos no Protocolo ao Tratado Antártico sobre a Proteção do Meio Ambiente, pelo qual os países-membros devem tomar as medidas necessárias para reagir a situações que possam ameaçar o meio ambiente antártico, e com o intuito de mostrar aos demais membros do tratado o nosso compromisso de bem zelar por aquele continente, a Marinha do Brasil solicitou o apoio da Petrobrás para, em conjunto, realizar a operação de reflutuação da chata", diz o comunicado.

 

A Petrobrás, que assinou um termo de compromisso com a Marinha, não quis informar a estrutura que usará para a operação de resgate, que deve ocorrer até 10 de março, conforme as condições climáticas do período. As consequências do incêndio na base brasileira também podem atrapalhar a operação de resgate da chata.

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Os ministérios que integram o Programa Antártico Brasileiro - de Ciência e Tecnologia, Defesa, Meio Ambiente, Relações Exteriores e Minas e Energia - também não se manifestaram.

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