Liga das Mulheres Pelos Oceanos critica criação de recifes artificiais em Noronha

Mesmo sem ter nenhum tipo de norma ambiental estabelecida, o governo pretende fazer 73 naufrágios artificiais nos principais pontos turísticos do litoral brasileiro

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – O movimento Liga das Mulheres Pelos Oceanos, destinado a promover ações de pesquisa, defesa e proteção dos oceanos e da vida marinha, divulgou uma carta com críticas ao plano do governo federal, de criar recifes artificiais no entorno de Fernando de Noronha.

O arquipélago de Fernando de Noronha é protegido por meio de duas unidades de conservação Foto: RENEE PEREIRA/ESTADAO

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O movimento, que tem entre seus membros a família Schurmann e Marina Klink, esposa de Amyr Klink, declarou que recebeu “com profunda preocupação as recentes notícias divulgadas na mídia, afirmando que o governo federal pretende afundar embarcações e outros ‘artefatos’ no mar de Fernando de Noronha, com o propósito de formar ‘recifes artificiais’ para atrair mergulhadores e para estimular a pesca esportiva”.

“Solicitamos que ações desse porte possam ser debatidas de forma transparente com a sociedade, em audiências públicas nacionais e regionais, com a participação de especialistas e comunidades costeiras”, declarou o movimento, que tem como madrinha a cantora Adriana Calcanhotto.

A Liga das Mulheres Pelos Oceanos lembra que o arquipélago de Fernando de Noronha é protegido por meio de duas unidades de conservação, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, que é uma unidade de proteção integral; e pela Área de Proteção Ambiental (APA) de Fernando de Noronha, que é uma unidade de uso sustentável incidente sobre a área com ocupação humana no arquipélago.

“Por toda sua importância paisagística e biológica, o arquipélago possui os títulos de Sítio do Patrimônio Mundial Natural e de Reserva da Biosfera, ambos da Unesco e ainda de Sítio Ramsar, da Convenção de Zonas Úmidas de Importância Internacional”, afirma o movimento.

“A implantação de recifes artificiais formados por barcos, aviões e outras espécies de entulhos, além de desnecessária, é perigosa. Sua instalação sabidamente pode ocasionar impactos negativos, tanto ambientais quanto socioeconômicos”, diz a Liga. “Existe ainda o perigo de atração de espécies invasoras, com consequências imprevistas e possivelmente deletérias, para as comunidades coralíneas naturais de Noronha.”

Reportagem do Estado publicada nesta sexta-feira, 6, revela que, mesmo sem ter nenhum tipo de norma ambiental estabelecida, o governo pretende fazer 73 naufrágios artificiais nos principais pontos turísticos do litoral brasileiro, além de liberar mais 47 locais para pesca esportiva. A maior parte das localidades pretendidas é área de proteção ambiental, com regras rígidas de controle da biodiversidade.

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O arquipélago de Fernando de Noronha, no litoral de Pernambuco, receberia oito pontos para mergulho e outros oito para pesca esportiva. Além do arquipélago, a Marinha deu aval para instalação de recifes artificiais em mais duas localidades de Pernambuco, Porto de Galinhas (9 naufrágios) e Paulista (8 naufrágios).

“A Liga clama por sensatez, de uma vez que os erros cometidos por ações impensadas podem ter consequências irreversíveis. Os lucros fáceis e rápidos de agora podem se transformar em enormes prejuízos a serem pagos não apenas pelas próximas gerações, mas em futuro próximo”, declara o movimento. “Melhorar o turismo é uma meta importante, mas visitantes podem ser atraídos por respeito à natureza, saneamento básico, tranquilidade, estoques saudáveis, cultura, tradição e alimentos sustentáveis e não por resultados duvidosos de ações impensadas que podem comprometer o maior patrimônio brasileiro, a sua biodiversidade.”

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