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Lama de Mariana não afeta desova de tartaruga

Um ano após rejeitos atingirem área de conservação em Regência (ES), estudos não apontam mudança no comportamento das espécies

Por Luciana Almeida
Atualização:

REGÊNCIA - Após um ano o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), pesquisadores do Centro Tamar ICMBio afirmam que as tartarugas da região de Regência, litoral norte do Espírito Santo, não foram prejudicadas pelo material tóxico que chegou à região. Estudos continuam sendo realizados para avaliar os impactos ambientais.

Resultados de levantamentos das últimas três temporadas de desovas no litoral de Regência apontam que o número de ninhos registrados em 2015 foi de 4.130, ou seja, 98% a mais que a quantidade registrada no ano anterior, que foi de 2.349 ninhos. Neste ano, foram 1.594 ninhos, mas segundo pesquisadores o número está dentro do porcentual de variação dos últimos 35 anos. Nenhum dos ninhos foi atingido pela lama em 2015.

Pesquisadores transferem ninhos de tartaruga-de-couro na região de Regência, em novembro de 2015; nenhum foi atingido pela lama. Foto: Centro Tamar/ICMBio

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A analista ambiental do Centro Tamar ICMBio, Cecília Baptistotte, destacou que a lama de rejeitos chegou à região no dia 21 de novembro do ano passado, período de pico da desova das tartarugas, que ocorre entre novembro e dezembro. A maior preocupação é com a espécie Dermochelys coriácea, conhecida como tartaruga-de-couro, que é a mais ameaçada, e com a espécie caretta-caretta, popularmente conhecida como tartaruga-cabeçuda. 

Segundo a pesquisadora, houve muita dúvida em relação aos impactos, pois não se sabia como essa lama chegaria e como ela era. “Transferimos 35 ninhos que estavam mais próximos da foz, para uma área mais ao sul, por precaução. Os outros permaneceram. Os filhotes nasceram, nadaram por cerca de uma semana até conseguirem vencer a área de arrebentação e seguiram para o mar.”

Cecília disse ainda que este ano não observou nenhuma mudança no comportamento das fêmeas que chegaram ao litoral para depositarem ovos. Ainda de acordo com a pesquisadora, o número de animais mortos encontrados na praia neste ano também está dentro da média de anos anteriores. E na maioria das vezes os casos estão relacionados à pesca. 

“Também de acordo com os estudos que estão sendo realizados não há alteração na vida marinha, mas não podemos dizer que nada será afetado. São bichos de vida longa e precisamos continuar acompanhando ao longo dos anos. Os filhotes que nasceram aqui no ano passado só retornam em 25 a 30 anos, então somente aí poderemos observar se houve alguma alteração”, explicou ela. 

O coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Tartarugas Marinhas e Biodiversidade Marinha do Leste (Tamar/ICMBio), João Carlos Alciati Thomé, o Joca, destacou que os resultados das amostras coletadas na região no mês de abril apresentaram melhora significativa em relação à presença de metais como arsênio, chumbo, cromo, zinco, bário e manganês, entre outros.

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Pesquisadores de três institutos envolvidos no monitoramento das tartarugas voltaram ao mar no dia 5 deste mês para dar continuidade ao monitoramento da lama no Rio Doce. Foto: PROJETO TAMAR/ICMBIO

No entanto, ele ressaltou que, com as chuvas que ocorreram nas últimas semanas, uma nova carga de sedimentos desceu pelo rio, mas as amostras coletadas agora só terão os resultados divulgados em torno de 40 a 50 dias. 

“Em relação às tartarugas, não há indícios de impactos”, frisou ele. “A temporada de desova está em andamento e dentro da normalidade. Estamos realizando exames de sangue nas fêmeas, que retornam a cada dois anos, e assim vamos acompanhando”, ressaltou.

Alerta. Sobre a tragédia ambiental ocorrida no ano passado, a maior já registrada no Brasil, ele fez um alerta à sociedade, dizendo que é preciso exigir maior rigor dos órgãos de governo em relação aos licenciamentos e fiscalizações dessas grandes empresas para prevenir, de fato, situações como esta. “Isso mostrou realmente que não temos condições de lidar com grandes tragédias. Desorganizou a sociedade de todas as regiões atingidas. A tragédia ainda está instalada e vai levar muito tempo para a gente aprender e se reerguer. Tudo é novo e os reais danos só vamos descobrir daqui a alguns anos.” 

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