Investigações identificam óleo venezuelano em praias do Nordeste

Poluente já foi identificado em mais de 130 pontos do litoral; Petrobrás se limita a dizer que material não é comercializado pela empresa

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Por André Borges
Atualização:
As manchas de óleo tomaram as areias das praias de Aracaju e parte daregião metropolitana da capital sergipana Foto: Marcos Rodrigues/Agência Sergipe Notícias

BRASÍLIA – Investigações sigilosas realizadas pela Marinha e Petrobrás encontraram petróleo com a mesma “assinatura” do óleo da Venezuela em manchas que se espalham pelo mar na Região Nordeste. O poluente já foi identificado em mais de 138 pontos no litoral dos nove Estados da região. Nesta terça-feira, 8, o presidente Jair Bolsonaro disse não descartar que tenha sido uma ação criminosa, mas ponderou que a apuração sobre o caso ainda está em curso. 

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Segundo uma fonte da alta cúpula do governo ouvida pelo Estado, trata-se do mesmo tipo de óleo extraído da Venezuela. A conclusão já foi comunicada ao Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Não é possível dizer que todo o vazamento que atinge as praias do Nordeste tem a mesma origem, mas análises já realizadas em algumas manchas concluíram, com certeza, que se trata de material de origem venezuelana.

O governo tem tratado o tema com total sigilo. A Marinha e a Polícia Federal analisam amostras e ainda não deram informações sobre a origem do acidente. A Petrobrás se limita a informar que não se trata de material processado ou comercializado pela empresa.

Nesta terça-feira, 8, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que há a possibilidade de que o derramamento de óleo em praias do Nordeste tenha sido criminoso. Ele, no entanto, ponderou que as investigações ainda estão em curso e evitou comentar sobre o envolvimento de outros países.

O Estado questionou a Petrobrás sobre a possível presença de óleo da Venezuela nas instalações da refinaria Abreu e Lima, estrutura que, em princípio, seria construída com a parceria da estatal venezuelana PDVSA. A Petrobrás informou que nunca processou óleo de origem venezuelana em Abreu e Lima, nem mantinha estoque de produtos daquele país em suas instalações.

Por meio de nota, a Petrobrás declarou que a análise realizada pela empresa em amostras de petróleo cru encontrado em praias do Nordeste “atestou, por meio da observação de moléculas específicas, que a família de compostos orgânicos do material encontrado não é compatível com a dos óleos produzidos e comercializados pela companhia”.

Os testes foram realizados nos laboratórios do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), no Rio. “Desde 12/9, a Petrobras realizou, por solicitação do Ibama, limpeza de praias que apresentaram manchas de óleo nos últimos dias, nos estados de Alagoas, Sergipe, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia. O trabalho é realizado pelas equipes do Centro de Defesa Ambiental da Petrobras, nas praias indicadas pelo órgão ambiental”, informou.

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“A função da Petrobrás não é investigar de onde vem o óleo. Nossa preocupação foi se era um óleo produzido ou eventualmente comercializado pela Petrobras. Temos isso bem documentado. Coletamos 23 amostras, nosso centro de pesquisas realizou análises bioquímicas e chegou à conclusão de que não se trata de nenhum óleo produzido e/ou comercializado pela Petrobrás”, disse o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, em audiência na Câmara nesta terça.

Em nota, a Marinha disse ter feito inspeções ao longo do litoral nordestino e análises do material recolhido nas praias. Também informou ter usado 1583 militares, cinco navios, uma aeronave nessas operações. A Marinha ainda classificou a ocorrência como "inédita". O Estado enviou questionamentos à PDVSA, estatal petrolífera venezuelana, mas não obteve retorno até 20h20 desta terça. 

Governo deve investir em monitoramento, diz especialista

Segundo o professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio (Uerj), David Zee, o episódio deveria estimular o governo a investir mais em fiscalização. "Poderia aproveitar esta experiência e pensar preventivamente no planejamento de um amplo programa de monitoramento estratégico principalmente em regiões sensíveis, frente a desastres naturais, além da vigilância para segurança a navegação e comércio exterior", avalia.

"Pela quantidade espalhada, pode até ser a carga completa de um petroleiro", afirma Zee. Para o especialista, "o mesmo que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão vinculado ao Ministério da Ciência) faz com a Amazônia deveria fazer com a Amazônia Azul."/COLABOROU JESSICA NAKAMURA, ESPECIAL PARA O ESTADO

'Estadão Notícias': Qual tamanho da tragédia com óleo no mar do Nordeste? Especialistas explicam - Ouça:

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