Investigação de mancha em praias envolve análise química do óleo e estudo de correntes marítimas

A ideia é cruzar informações com a dos navios que circularam pela área onde o vazamento ocorreu para identificar os responsáveis; o poluente já foi identificado em 229 pontos da costa nordestina

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Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO DE JANEIRO - A análise geoquímica do óleo derramado e o estudo das correntes marítimas na costa brasileira são as duas principais linhas de investigação para o desastre ambiental que afeta as praias do Nordeste. A ideia é cruzar essas informações com a dos navios que circularam pela área onde o vazamento ocorreu e tentar, dessa forma, identificar os responsáveis. O poluente já foi identificado em 229 pontos da costa nordestina.

Manchas de óleo na praia da Pituba, em Salvador Foto: Antonello Veneri/AFP

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Análises feitas pela Petrobrás e confirmadas por universidades federais do Nordeste indicam que o óleo é de origem venezuelana. Estudo do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio (Coppe/UFRJ) já determinou que o vazamento ocorreu entre 600 e 700 quilômetros da costa, na altura da divisa entre Sergipe e Alagoas.

“Todos os petróleos são caracterizados em seus países de origem. Cada companhia tem seu banco de amostras”, explica a professora do Programa de Engenharia Química da Coppe/UFRJ Angela Uller. “É possível identificar o campo de petróleo de onde veio.” O governo venezuelano já afirmou não ser responsável pelo material.

Trabalho também pode revelar data do vazamento do material

A análise pode revelar também há quanto tempo o óleo está em contato com a água do mar, oferecendo informações preciosas sobre a possível data do vazamento.

“Pela densidade, viscosidade e composição do óleo, dá para se estimar há quanto tempo o óleo está em circulação”, explica o oceanógrafo químico Gilberto Fillmann, da Universidade Federal do Rio Grande. “Conforme o tempo passa, o óleo perde suas moléculas mais leves, sua parte mais solúvel, e vai ficando mais viscoso.”

Recolhendo amostras do óleo na praia, no mar e na refinaria de origem, por exemplo, é possível fazer uma linha do tempo do desgaste sofrido, determinando quanto tempo o petróleo levou para chegar à costa.

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A análise das correntes marinhas, por meio de modelagem reversa, confirma que o derrame ocorreu muito longe da costa. Ao se aproximar do litoral, levado por uma corrente que se bifurca no litoral do Nordeste, o óleo se espalhou para o norte e para o sul, como explica o oceanógrafo Ronald Buss de Souza, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Limpeza de vazamento de óleo na Praia de Janga, na cidade de Paulista. Grande quantidade da substância tóxica começou a aparecer no início da tarde desta quarta-feira (23). Foto: Tiago Queiroz/Estadão 

O estudo geoquímico do óleo pode indicar também a sua toxicidade e o tipo de impacto ambiental que pode causar.

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