Índios bolivianos protestam contra estrada

Obra de 300 km através da floresta amazônica passaria por dentro de reserva indígena; Morales diz que estrada sai 'quer eles queiram ou não'

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Por Redação
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O presidente boliviano Evo Morales apimenta seus discursos com menções à mãe-natureza, culpando os países ricos e os grandes negócios pelo aquecimento global e por crimes contra o meio ambiente. Mas o esquerdista Morales, primeiro presidente de ascendência indígena, está encarando forte resistência de sua base indígena por conta dos planos do governo de construir uma estrada de 300 km através da floresta amazônica. A estrada de R$ 420 milhões, que será construída pela empresa brasileira OAS e largamente financiada pelo Brasil, vai conectar planaltos amazônicos de Beni até Chapare, uma região de povoamento esparço onde Morales começou sua carreira política como líder dos plantadores de coca. Evo Morales, aliado ideológico muito próximo de Hugo Chávez, fez do projeto da rodovia um dos pilares de sua política de alavancar o investimento em infraestrutura na Bolívia, uma nação empobrecida.   Ele já experimentou um apoio sólido da maioria indígena desde que assumiu, há cinco anos, embora tenha encarado protestos dos mineiros dos Andes por conta de condições de trabalho e, mais recentemente, por causa de uma tentativa frustrada de elevar o preço dos combustíveis.   Mas no mês passado ele deixou os ativistas indígenas zangados ao dizer que a estrada seria construída passando pelo meio do Parque Nacional e Terra Indígena Isiboro Secure, "quer eles gostem ou não".   Ele acusou os ativistas de servir aos interesses de ONGs estrangeiras ao invés de servir a seus próprios irmãos. A controvérsia colocou o presidente na defensiva três meses antes das eleições judiciais nacionais, parte de uma ampla reforma para dar às populações indígenas maior papel nos assuntos de Estado. "Há uma evidente contradição no discurso de Morales, pois ele fala em proteger a mãe natureza e a identidade cultural mas ao mesmo tempo em promover projetos de desenvolvimento", afirmou Miguel Urioste, especialista em questões indígenas na Bolívia. Distância Os que se opõem à estrada votaram o início de uma marcha de protesto de 600 km para o mês que vem, dizendo que não irão deixar a construção seguir adiante porque ela ameaça uma área protegida e porque o direito de consulta indígena foi violado. "A atitude governo em relação aos direitos de consulta indígena mostra uma distância crescente entre o governo e o setor que vem sendo uma fonte de apoio a ele", disse o analista político e professor universitário Carlos Cordero. "Isso está ferindo Morales", disse Cordero, avisando que o presidente corria o risco de ser visto como "um presidente índio que toma decisões contra os indígenas." As próximas eleições presidenciais na Bolívia não acontecerão até 2014, mas Cordero afirmou que o descontentamento generalizado com Morales poderia se refletir nas eleições judiciais de outubro. Os oponentes de direita de Morales estão conclamando os eleitores a anular seus votos num protesto anti-governamental de massa e parte da base eleitoral nas terras altas dos Andes poderia atender ao chamado, em um sinalo de suporte aos índios em Isiboro. Para o deleite dos oponentes do presidente, alguns legisladores do partido do governo demonstraram apoio às demandas dos 12 mil residentes do território de Isiboro, conhecido pela sigla TIPNIS.

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