Incêndios no Pantanal colocam arara-azul em risco

A ave já esteve muito ameaçada de extinção e, graças a projetos de proteção, hoje está em situação considerada vulnerável. Queimadas no bioma subiram 334%

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - Os incêndios no Pantanal de Mato Grosso do Sul colocam em risco um trabalho de conservação da arara-azul, realizado há cerca de 20 anos, na reserva natural da Fazenda Caiman, na cidade de Miranda. A ave já esteve muito ameaçada de extinção e, graças a projetos como esse, hoje está em situação considerada vulnerável.  No Pantanal, o número de queimadas este ano aumentou 334% ante o mesmo período de 2018.

As araras-azuis se alimentam de castanhas retiradas dos cocos das palmeiras acuri e bocaiúva, que foram atingidas pelos incêndios Foto: Edson Diniz

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De acordo com o pesquisador Felipe Dias, diretor executivo do Instituto SOS Pantanal, os 22 ninhos com ovos ou filhotes não foram atingidos pelo fogo, mas as aves perderam sua principal fonte de alimentação, com a queima de coqueiros e palmeiras nas matas do entorno. “As aves e seus filhotes escaparam do fogo, mas não significa que vão sobreviver aos efeitos da queimada”, disse.

As araras-azuis se alimentam de castanhas retiradas dos cocos das palmeiras acuri e bocaiúva, que foram atingidas pelos incêndios. As aves podem ter perdido também suas futuras casas, já que fazem ninhos em ocos de árvores como o manduvi e o angico branco. Conforme o pesquisador, além dos animais lentos, vítimas diretas do fogo, o incêndio afeta também aqueles que são ágeis e escapam das chamas, como onças pardas e pintadas.

“A onça fêmea é territorialista, ocupando território vasto e, quando há incêndio, é obrigada a abandonar seu ambiente e se adaptar a outro. Além disso, ela perde também seu alimento, que são as presas menores, atingidas pelo fogo." O instituto realizará um estudo sobre os impactos dos incêndios na fauna pantaneira.

Conforme a Polícia Ambiental, ainda não é possível ter um número de animais mortos, mas a perda de vida selvagem é expressiva. Brigadistas relatam ter encontrado tuiuiús, tatus, sucuris e tamanduás mortos, muitos deles carbonizados. Também foram avistados animais em fuga, como bandos de até trinta macacos-pregos, tamanduás com filhotes e cervos-do-pantanal. Houve registros, que ainda serão contabilizados, de animais atropelados em rodovias, como quatis, tamanduás, jacarés e cobras, que provavelmente fugiam do fogo.

Queimadas são fruto de ação humana, diz pesquisador

Os incêndios no Pantanal, segundo Felipe Dias, têm origem na ação humana. A falta de umidade, o calor e o vento se incumbem de espalhar os focos de fogo. Diferentemente do Cerrado, segundo ele, não são comuns casos de combustão espontânea no bioma.

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"Observamos grande número de queimadas ao longo da BR-162, que liga Campo Grande a Corumbá (MS). Nesse caso, por exemplo, dá para deduzir que pessoas jogaram cigarros acesos", afirma.

Nas últimas 48 horas, em Mato Grosso do Sul, foram 397 novos pontos de fogo, 90% deles criminosos, segundo Jaime Verruck, secretário Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar.  Por causa das queimadas, o governo local e também Mato Grosso decretaram estado de emergência esta semana.

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