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Impasses dominam às vésperas de fim de prazo para acordo climático

Avanços nas negociações são uniformes, mas a falta de um entendimento geral põe em risco possibilidade de acordo.

Por Eric Brücher Camara
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Ativistas alertam para 'afundamento' das negociações em Cancún Em meio à grande incerteza sobre um possível acordo na conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Cancún, no México, nesta sexta-feira, a área mais promissora é a que trata da preservação de florestas. As negociações sobre a criação de programas para promover a redução de emissões por desmatamento e degradação (conhecidos pela sigla REDD) em países em desenvolvimento estariam adiantadas e dependeriam apenas de vontade política para serem aprovadas. No entanto, dificuldades de acordo em outras áreas, principalmente no que diz respeito a um segundo período do Protocolo de Kyoto, a partir de 2012, podem acabar descarrilando o tema REDD. Japão, Rússia e Canadá preferem um novo tratado. Na quinta-feira, o diretor-executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, fez um apelo para que isso não venha acontecer. "Toda esta negociação é sobre um pacote de resultados. Mas temos de reconhecer que um quinto do pacote, se fosse fechado, seria um avanço significativo", disse o ambientalista. A declaração do ativista, mais acostumado a exigir "ambição" dos países do que frações de avanços, dá uma pista sobre o risco de não se alcançar qualquer acordo em Cancún. Dificuldades Mesmo a questão dos REDD ainda não é um sucesso garantido. Existem dúvidas sobre como deve ser a participação de fundos provenientes do mercado de carbono no financiamento de ações de proteção das florestas. Alguns países, como a Bolívia, se opõem totalmente a essa participação; outros acreditam que só o mercado deveria financiar projetos REDD. A posição brasileira é de que inicialmente os projetos não dependam de mercados de carbono. Por outro lado, o Brasil é apontado como vilão na questão das salvaguardas - que a visam a proteger direitos de povos indígenas, da natureza e outros - por se opor a mecanismos de verificação internacional, preferindo relatórios nacionais detalhados. Apesar das dificuldades, na delegação brasileira, a palavra de ordem continua a ser "otimismo cauteloso". A expressão foi usada pela primeira vez pelo negociador-chefe brasileiro, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, e repetida pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, no dia seguinte. Kyoto Brasil e Reino Unido, a pedido da presidência da reunião, exercida pela ministra mexicana das Relações Exteriores, Patricia Espinosa, intercedem no maior impasse do encontro: a recusa do Japão a se comprometer com um segundo período de compromisso sob o Protocolo de Kyoto. A negociadora-chefe da UE para o clima, Connie Hedegaard: otimismo O tratado é o único instrumento internacional já criado para promover cortes de emissões dos gases do efeito estufa e se transformou em questão de honra para muitos países, em sua maioria do mundo em desenvolvimento. Britânicos e brasileiros tentam encontrar "soluções criativas", segundo um negociador, para fazer com que o Japão aceite fazer parte de um acordo. Até a quinta-feira, no entanto, sem sucesso. Mesmo assim, a negociadora-chefe da União Europeia, Connie Hedegaard, manteve o discurso otimista. "Acho que se você puser dez ministros em uma sala fechada e disser: 'por favor encontrem um acordo', eles saberão o que fazer. Sim, é difícil, mas não é tão complicado assim", disse a comissária europeia para Ação Climática. Nesta sexta-feira, representantes de 194 países chegarão ou não a um acordo, depois de varar a noite em discussões. Diante de tantas dificuldades, a presidente da conferência disse esperar apresentar o documento final do encontro às 18h de sexta-feira. Só então será possível saber se foi uma manobra política ou otimismo infundado. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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