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Hortas indoor viram opção para produzir alimento na cidade; entenda como funciona

Técnica usa leds coloridos equivalentes à energia do sol, filtros de ar e dispensa agrotóxicos; cidades como São Paulo e BH abrigam iniciativas desse tipo

Por Eduardo Geraque
Atualização:

Em um primeiro momento, parece um laboratório inóspito. Corredores estreitos e espécies de estantes metálicas com vários andares repletos de bandejas. Sobre elas, leds coloridos, para dar energia equivalente à solar ao ambiente. Existe um sistema de dutos por todas as estantes, para levar uma solução nutritiva a cada recipiente. O que se estuda nesse laboratório?

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Na verdade, nada. O ambiente, de 90 metros quadrados, existe de fato em uma rua comum do bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Lá dentro, funciona uma das primeiras hortas indoor da cidade. “Nosso sistema usa zero de agrotóxico. O ambiente é totalmente controlado. Usamos portas duplas e filtros de ar para que as plantas possam crescer sem nenhum pesticida", conta o engenheiro ambiental Paulo Bressani, idealizador da Fazenda Cubo.

"Na aeroponia, técnica que usamos aqui, as plantas ficam suspensas e as raízes são nebulizadas com uma solução nutritiva. O grande diferencial desta técnica é que como as raízes são apenas nebulizadas e elas não ficam encharcadas, acaba ocorrendo uma maior oxigenação. O que deixa elas menos propensas a ter alguma doença ou contaminação. A maior oxigenação das plantas também acelera o crescimento”, acrescenta Bressani,

Técnica sem agrotóxico e com ambiente controlado acelera crescimento das plantas e diminui risco de doença ou contaminação Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na técnica da aeroponia, a água está presente em pequenas gotículas. As raízes são borrifadas por uma espécie de névoa. Ao contrário da hidroponia, onde as raízes são regadas diretamente, ou elas ficam submersas na água, onde então é usado um sistema de calhas que irriga as plantas de tempos em tempos.

O timing da abertura da loja em Pinheiros – atualmente são duas unidades que produzem 2,5 mil quilos de 40 tipos de hortaliças folhosas por mês – acabou ajudando. Ela ocorreu dois meses antes de a pandemia começar. “A aceitação acabou sendo muito boa por parte do consumidor final. As pessoas estão cada vez mais interessadas de onde vem os alimentos que elas estão comendo e como eles são produzidos”, explica Bressani. No seu empreendimento, a loja de venda de produtos está em frente da fazenda indoor. E existe uma janela conectando os dois mundos, onde é possível ver como tudo é feito.

Assim como a Cubo, há iniciativas em outras partes da cidade e do País. São os casos das empresas Be Green, nascida em Belo Horizonte, mas hoje presente em outros cinco pontos do Brasil (São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, Osasco, Salvador e Campinas), e da Pink Farms. Tudo voltado para a filosofia de aproximar produção do consumo e dar mais sustentabilidade à forma como as pessoas se alimentam.

Pelos cálculos dos donos da Be Green, que nasceu na capital mineira em 2017, o desperdício de alimentos, por causa da qualidade dos produtos que saem das hortas urbanas controladas, cai a menos de 1%. E o consumo de água também é reduzido em mais de 90%.

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“Dentro da minha filosofia de oferecer soluções sustentáveis para produção de alimentos, a nossa segunda unidade também foi importante”, explica Bressani, da Cubo. Segundo ele, em vez de uma horta vertical indoor, ele montou uma estufa selada em um sítio em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, que funciona não a partir dos leds, mas com a própria luz do sol.

Hortas 'indoor' se mostram como alternativaspara a produção de alimentos nas zonas urbanas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As tais hortas indoor, apontam especialistas que avaliam o tema, é um caminho seguro, assim como já ocorre em outros países, para equilibrar um contra senso evidente presente nos grandes centros urbanos hoje, como mostram alguns dados internacionais.

Números da FAO,  órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, estima que 80% da produção de alimentos em todo o mundo são destinados às zonas urbanas. No Brasil, outro indicador carrega ainda a dramaticidade da crise atual. Em 2020, havia 19 milhões de pessoas passando fome no País, como revelou o relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.

A grande referência mundial desse tipo de produção controlada é a empresa americana Aerofarms, criada em 2004 em Nova Jersey. O grupo agora participa de um empreendimento gigantesco em construção em Abu Dhabi. A Bowery, sediada no bairro de Manhattan, em Nova York, também está entre os maiores construtores de fazendas verticais do planeta. No Japão, o setor também está bem desenvolvido.

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