'Homens-tatu’ se embrenham entre pedras para retirar óleo de praias nordestinas

Mulheres e homens se esticam e até entram em fendas para tirar petróleo de áreas de difícil acesso

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Por Priscila Mengue (textos) , Tiago Queiroz (fotos) e enviados especiais ao Nordeste
Atualização:

JABOATÃO DOS GUARARAPES E PAULISTA - Em meio às pedras, voluntários e agentes públicos se embrenham para retirar fragmentos do óleo de áreas de difícil acesso. Passam por fendas, viram de cabeça para baixo, esticam os braços e se equilibram sobre pedras escorregadias. Eles eram quase “homens-tatus”, como definiu o repórter fotógrafo Tiago Queiroz durante a cobertura do Estado das manchas de petróleo no Nordeste.

O trabalho nessas condições é ainda mais arriscado, pois prevê contato muito direto com o óleo em diversas partes do corpo. Por vezes, os “homens-tatu” precisam se deitar ou se equilibrar sobre as pedras, que ficam escorregadias pela presença do óleo. Mesmo assim, em situações presenciadas pelo Estado, essas pessoas careciam de equipamentos de proteção completos, mesmo com o aumento de relatos e suspeitas de intoxicação envolvendo pessoas que trabalharam na retirada da substância das praias.

Alisson Ribeiro, 24 anos, é pedreiro e voluntário na praia Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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“A gente dava um jeito. Tinha um caminhão que ajudava a tirar as pedras”, explica o pedreiro Alisson Ribeiro, de 24 anos, que foi dois dias seguidos ser “homem-tatu” na retirada de uma grande mancha de óleo na Praia do Janga, em Paulista, na Grande Recife. A função geralmente é exercida por rapazes jovens e franzinos, que conseguem embrenhar nas fendas com mais facilidade.

“Puxava o óleo com a mão. No primeiro dia, fiquei até umas 17h30, porque já estava muito escuro. Colocava o braço, o que coubesse para tirar o óleo”, relata Alisson. Morador do Janga, ele saiu do trabalho junto de colegas assim que soube da chegada da mancha, na quarta-feira. “Ainda dá para ver um pouco de óleo”, lamenta. 

O estudante Anderson de Castro da Silva Júnior, de 17 anos, também chegou a fazer as vezes de “homem-tatu”, além de ajudar a puxar o óleo para a margem no Janga. Quando falou com o ‘Estado’, utilizava óleo de cozinha para tirar vestígios do óleo grosso que ajudou a tirar do mar. 

Retirada de óleo envolve se embrenhar no meio de pedras Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As manchas escuras tomavam a camiseta vermelha do garoto, assim como os braços, as pernas e parte do rosto. Ele dizia que a substância “pega na pele e queima”, mas não se importava com o contato. “Não ‘tô’ preocupado com isso, é só lavar que tira. Ligo para melhorar o ambiente, para melhor para as gerações futuras.”

O rapaz descreve que estava “pegando assim” a grande massa de óleo, enquanto repetia gestos como os de um grande abraço. Nascido em São Paulo, mora na cidade de Paulista junto da família e se encaminhou para Janga assim que viu a notícia da chegada da mancha na televisão. “Juntei dois amigos e vim”, lembra. “Não nasci aqui, sou de São Paulo, mas tenho um carinho muito grande pelo povo daqui."

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