Homem acelera em mil vezes a extinção da biodiversidade

Há quase 20 anos, em 1995, essa taxa era cem vezes maior que o índice de extinção natural, revela estudo publicado na revista 'Science'

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Por Barbara Ferreira Santos
Atualização:

SÃO PAULO - O desaparecimento das espécies no mundo é hoje mil vezes mais veloz do que se essa extinção acontecesse naturalmente, sem o impacto do homem. Há quase 20 anos, em 1995, essa taxa era cem vezes maior que o índice de extinção natural.

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Embora haja rápido progresso em desenvolver áreas de proteção, um estudo publicado na revista Science mostrou que esses esforços não são ecologicamente representativos e não estão melhorando a proteção da biodiversidade.

O documento, intitulado A Biodiversidade das Espécies e Suas Taxas de Extinção, Distribuição e Proteção, mostra que, nas áreas onde há grande devastação ambiental e que possuem espécies com pouca mobilidade e "dependentes" de hábitats específicos, há uma concentração maior de espécies em extinção. Entre as espécies conhecidas pelos cientistas, a maioria tem pouca mobilidade e é pouco adaptável. Isso aumenta o risco de desaparecimento.

Apesar de os cientistas saberem hoje mais sobre as espécies em risco que anteriormente, estima-se que ainda é alto o número daquelas que sequer são conhecidas para a comunidade científica. Aproximadamente 1,9 milhão de espécies são conhecidas no mundo, mas calcula-se que haja cerca de 10 milhões de espécies no total. Pior é a falta de informação sobre quais são os hábitats dessas espécies e as taxas de extinção, pois esses dados são fundamentais para descobrir a que risco elas estão expostas.

Essas evidências endossam a teoria de que o mundo caminha para a sua sexta extinção em massa, segundo o estudo. A quinta e última foi há cerca de 65,5 milhões de anos, quando os dinossauros foram extintos.

"A crise da extinção das espécies é maior que a gente pensava, revelou a pesquisa. A gente está caminhando para uma extinção em massa, mas ainda é possível reverter essa situação", explicou um dos coautores do artigo, Clinton Jenkins, professor visitante do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).

Segundo ele, no projeto foram analisados mapas que continham o registro de hábitat de mais de 22 mil espécies para identificar as regiões em que há maior necessidade de prevenção de extinções. Entre essas áreas está a Mata Atlântica, os Andes, a Ilha de Madagascar, as ilhas do Sudeste da Ásia e a América Central.

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Brasil. O Brasil, afirma Jenkins, tem papel fundamental para reverter esse cenário mundial. "O Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade e patrimônio natural no mundo e possui biomas excepcionais, como a Mata Atlântica, o Cerrado e a Amazônia. Ao mesmo tempo, várias partes do País estão muito ameaçadas e ainda não há proteção suficiente para a sobrevivência dessa biodiversidade. A Mata Atlântica, por exemplo, já perdeu 90% de cobertura, mas está perdendo mais ainda", afirma.

Para combater o desaparecimento das espécies, os pesquisadores afirmam que é preciso investir em tecnologias que possibilitem a coleta de dados e mapas e promover o intercâmbio das informações entre os países.

"Com a reunião de dados antigamente dispersos, por exemplo, sabemos que a maior parte das espécies que vivem na terra está em pequenas áreas geográficas - a maioria delas menor que o Estado do Rio de Janeiro. Espécies com essas pequenas faixas são desproporcionalmente vulneráveis a ameaças modernas que causam extinção", afirma Jenkins.

O estudo mostra que as espécies de água doce são, provavelmente, mais ameaçadas do que espécies na terra e que o potencial de extinções de espécies nos oceanos tem sido subestimado. Os dados revelam que cerca de 13% da área terrestre do planeta está protegida enquanto apenas 2% daquelas que vivem nos oceanos estão sob proteção.

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