Focos de incêndio no Estado de SP já são o dobro de 2017

Desde janeiro foram 1.421 pontos de fogo, ante 675 no mesmo período do ano passado; nível do Sistema Cantareira continua caindo

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Por Giovana Girardi e Rene Moreira
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Pelo interior paulista, queimadas têm destruído lavouras e áreas de preservação, além de atrapalhar a rotina dos moradores. A temporada seca ainda não chegou ao seu auge, mas o Estado já sofreu mais que o dobro de focos de incêndio em relação ao ano passado. De 1.º de janeiro até esta quarta-feira, 18, foram 1.421 focos, ante 675 no mesmo período de 2017 – alta de 111%. Já supera também este período de 2016, que teve 1.313 focos e era o maior dos últimos anos. 

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A seca, sentida nos baixos níveis de umidade da capital e observada na redução dos reservatórios de água do Estado, deixa folhas e galhos mais propícios ao fogo, na maioria das vezes causado por ação humana.

Com exceção de fevereiro, todos os meses deste ano tiveram mais focos de incêndio que os mesmos meses de 2017, que já tinha chamado a atenção. Setembro passado foi particularmente atípico, com 1.931 focos – número que só perdeu, em um único mês, para agosto de 2010, que registrou sozinho 2.452 focos – o maior desde o início dos registros, em 1998. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe).

Via Dutra, Km 31. Perspectiva é de mais focos em agosto Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Para o pesquisador Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe, ainda é cedo para imaginar como podem ser os próximos meses. Ele explica que mais de 70% das ocorrências de fogo no inverno paulista costumam ocorrer em agosto e setembro, mas afirma que o cenário é de atenção.

“Com certeza estamos com uma seca mais intensa. Há regiões no Estado que estão há mais de um mês sem uma gota de chuva”, diz. 

“É uma época de estiagem, então isso é esperado. É normal termos anos mais ou menos secos, por enquanto parece uma variação natural. A meteorologia não aponta a ocorrência de nada extravagante, como os fenômenos de El Niño ou La Niña, mas começamos a temporada de modo preocupante”, complementa.

Sufoco

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Em Presidente Epitácio, município que lidera em número de focos de incêndio no Estado – desde quarta foram 89 –, os moradores têm convivido cada vez mais com o ar enfumaçado. “Tem hora que fica até difícil respirar”, contou o mecânico Jair Alcindo Cruz. Segundo ele, quando parece que o ar está melhorando, o fogo volta a atingir outras áreas da cidade, na região de Presidente Prudente. 

Valdemir Garcia usou as redes sociais para protestar. “Aqui é uma estância turística que vai acabar em cinzas”, escreveu. “Tem queimadas por todo lado e no fim da tarde um cheiro insuportável invade a cidade.”

Segundo o Corpo de Bombeiros local, têm sido registrados seis ou sete incêndios por dia, mais do que anos anteriores. Alguns chegaram a tomar grandes proporções. Na noite de quarta-feira, 18, o fogo destruiu cerca de 40 hectares da reserva ambiental da Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar. A causa ainda é desconhecida. 

Em Martinópolis, oeste paulista, um incêndio em um canavial e em áreas de preservação às margens da rodovia SP-284 destruiu, em junho, 120 hectares de cana e 24 de mata, equivalente a 180 campos de futebol. Em meio às cinzas, foram encontrados tamanduás, quatis e tatus mortos. 

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Sérgio Marçon, coordenador de Fiscalização Ambiental da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e responsável pela Operação Corta Fogo, afirma que diante do “caótico setembro em chamas” de 2017, o governo adotou medidas para aperfeiçoar o combate ao fogo e para preveni-lo, em especial em unidades de conservação (UCs). 

Foram adquiridos pela Fundação Florestal (órgão que gere as UCs) 11 caminhonetes 4x4, em que é possível acoplar tanques de 3 mil litros; 4 caminhões-pipa e 3 caminhões-plataforma para transportar máquinas para fazer o aceiro.

“Já tínhamos uma previsão para o ano que apontava para uma estiagem complicada. A matéria orgânica estava mais seca e o verão pouco chuvoso não ajudou. É só ver como estão os reservatórios. Há previsão de chuva no começo de agosto, mas se voltar a ficar sem, há risco de termos outro setembro com muito fogo”, alerta.

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Como está o nível dos reservatórios

Rio Jaguari com nível baixo e carcaças de carros aparecendo na superfície. Ela faz parte da Bacia do Paraíba do Su, de onde água é bombeada para a represa Atibainha, uma das seis que formam o Sistema Cantareira Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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O nível do Sistema Cantareira continua caindo e chegou nesta quinta-feira, 19, a 41,3%. Há um ano, estava em 64,6%. Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), entre 1º de abril e 12 de julho, choveu nas bacias de captação do Cantareira só 16% da média histórica da estação seca, que vai até setembro. 

O monitoramento também aponta que a vazão média afluente do Cantareira em junho foi de 11,9m³/s. Isso representa apenas 34% da média histórica para o mês. Cenários do Cemaden indicam que as vazões devem continuar abaixo da média nos próximos meses, mesmo que o nível de precipitação na região fique dentro da média climatológica.

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Correções

Ao contrário do informado anteriormente, a foto das carcaças de carro foi feita no Rio Jaguari, que faz parte da Bacia do Paraíba do Sul, e somente reforça o abastecimento do Cantareira por meio de bombeamento. Foi feita uma confusão com a Represa Jaguari, localizada em Joanópolis. Essa sim faz parte do Cantareira.

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