O longa-metragem americano The Cove, que denuncia a matança de golfinhos no Japão, ganhou neste domingo o Oscar de Melhor Documentário. A vitória do filme - que recebeu críticas positivas, mas não deslanchou na audiência dos Estados Unidos - veio poucos dias após o distribuidor Takeshi Kato, da Unplugged, anunciar que The Cove entrará em cartaz no Japão em breve.
O documentário arrecadou somente US$ 1 milhão na bilheteria doméstica e é ainda mais desconhecido entre os japoneses. O governo do Japão alegou que a caça aos golfinhos e baleias continua sendo uma importante tradição cultural do país.
Dirigido pelo ex-fotógrafo da National Geographic Louie Psihoyos, o filme segue um grupo de ativistas que lutam contra a polícia japonesa e os pescadores para conseguir acesso ao local onde os golfinhos são caçados, em Taiji, no sul do Japão.
O ex-apresentador de televisão americano Ric O'Barry - e ex-treinador de golfinhos na série de TV "Flipper" - ajudou a organizar os esforços para fazer o documentário. O'Barry tem aparecido em vários programas televisivos para pedir o fim do uso comercial de animais marinhos, pegando carona na recente morte de uma treinadora por uma baleia orca no parque Sea Wotld, em Orlando.
Takeshi Kato disse na quinta-feira afirmou que The Cove será exibido em cinco cinemas de grandes cidades japonesas em maio ou junho deste ano. Ele espera aumentar este número para 20 salas de exibição.
O documentário teve sessão durante o Festival Internacional de Cinema de Tóquio no ano passado, mas uma universidade da capital japonesa desistiu de exibir o filme este mês depois de receber objeções da comunidade de Taiji.
Cidade japonesa critica vencedor
O prefeito da cidade japonesa de Taiji, Kazutaka Sangen, pediu hoje "respeito" à sua cultura e criticou que o filme apresenta dados não-comprovados "como se fossem reais".
Taiji é uma cidade litorânea no sul do Japão, com 3,5 mil habitantes, onde os pescadores alegam que a caça desses mamíferos é uma tradição centenária.
"A pesca na cidade de Taiji é realizada de acordo com a lei e com a permissão da província de Wakayama (centro do Japão). Portanto, não é um ato ilegal", ressaltou Sangen. "É lamentável que em algumas cenas do documentário se apresentem fatos como se fossem reais, sem que tenham sido estudados cientificamente", acrescentou.
Sangen pediu "respeito" a todas as culturas alimentícias e lembrou que o consumo de carne de golfinho "se baseia em uma tradição de muitos anos".
Um porta-voz da Prefeitura indicou que o prêmio ao documentário colocou a cidade no centro das atenções. "Este era um lugar muito tranquilo, mas temo agora que isso possa mudar", disse.
Greenpeace aplaude The Cove
A entrega do Oscar a "The Cove" foi, por outro lado, aplaudida pelo grupo ecologista Greenpeace. Segundo a ONG, o filme contribuirá para apoiar a luta internacional pela preservação das espécies marinhas.
"Espero que sirva de apoio às medidas em favor da preservação, assim como para a luta do Greenpeace no Japão", disse Greg McNevin, um porta-voz da ONG no país.
Além dos golfinhos, McNevin falou sobre o combate contra a caça de baleias por parte do Japão. O país deteve a captura desses animais com motivos comerciais em 1986, pela pressão internacional, mas a retomou em 1987 por "motivos científicos".
"O combate à caça de baleias também tem uma longa trajetória no Japão. Esperamos que este prêmio contribua para apoiá-lo", complementou o porta-voz do Greenpeace.